quinta-feira, 11 de julho de 2019

MARCOS 6

MARCOS 6

Após estas coisas, deixando as margens do lago Ele entrou na terra onde passara os primeiros anos de Sua vida. Ensinando na sinagoga, Suas palavras os admiravam. Eles profundamente reconheciam a sabedoria de Seus ensinamentos e o poder de Seus atos, e ainda assim tudo isso não criava convicção ou fé em seus corações. Eles conheciam a Ele e a Seus parentes segundo a carne, e isto cegou seus olhos quanto a Quem Ele realmente era. Eles não estavam O insultando em sua expressão de incredulidade, como os que estavam de luto na casa de Jairo; entretanto, era um nível de descrença tão grande que Ele ficou maravilhado com isso.
A visão que eles tinham de Jesus era justamente a do unitarismo moderno. Eles estavam totalmente convencidos de Sua humanidade, pois estavam muito bem familiarizados com Suas origens quanto à Sua carne. Eles viram isso tão claramente que formos cegados para qualquer coisa além, e se escandalizavam n’Ele. O unitarista vê Sua humanidade, mas nada além disso. Vemos Sua humanidade não menos claramente do que os que seguem o  unitarismo, mas, além disso, vemos Sua divindade. Não nos incomoda que não possamos entender intelectualmente como ambas possam ser encontradas n’Ele. Sabendo que nossas mentes são finitas, não esperamos explicar aquilo em que o infinito entra. Se tentássemos entender e explicar, deveríamos saber que o que assim entendêssemos não seria divino.
Como resultado dessa incredulidade, “não podia fazer ali coisas maravilhosas”, a não ser curar alguns enfermos que, evidentemente, tinham fé n’Ele. Isso enfatiza o que acabamos de ver em conexão com o versículo 43 de Marcos 5. Igualmente como na presença de grosseira incredulidade, o Senhor reteve qualquer testemunho a Si mesmo na presença de Seus incrédulos compatriotas; Ele não fez ali obras poderosas.
Agora podemos nos sentir inclinados a pensar que Sua ação deveria ter sido exatamente a oposta. Mas percebemos nas Escrituras que quando incredulidade sobe à altura de zombaria, o testemunho cessa – ver Jeremias 15:17; Atos 13:41, 17:32, 18:6. Também é evidente que, embora “Jesus Nazareno” tenha sido “aprovado por Deus... com milagres, maravilhas e sinais” (At 2:22), ainda assim, o objetivo principal não era convencer a incredulidade obstinada, mas sim encorajar e confirmar a fé fraca. João 2:23-25 nos mostra que quando Seus milagres produziram convicção intelectual em certos homens, Ele mesmo não confiava na convicção assim produzida. Por isso, Ele não fez grandes obras na cidade de Nazaré. Ele “não poderia fazer ali”, pois estava limitado por considerações morais, e não físicas. Milagres não eram adequados para a ocasião, de acordo com os caminhos de Deus, e Ele era o Servo da Deus vontade.
O que era adequado era a prestação fiel de um afetuoso testemunho; por isso “percorreu as aldeias vizinhas, ensinando”. Uma grande manifestação de milagres poderia ter produzido uma repulsa de sentimentos e convicções intelectuais, o que não valeria a pena. O firme ensinamento da Palavra significava semear a semente, e haveria algum fruto que valeria a pena, como já vimos.
Isso nos leva ao versículo 7 deste capítulo, onde lemos sobre os doze sendo enviados em sua primeira missão. Seu período de treinamento acabou. Eles tinham escutado Suas instruções, como em Marcos 4, e testemunharam Seu poder, como mostrado no capítulo 5. Eles também tiveram essa ilustração impressionante do lugar que os milagres deveriam ocupar, e do fato de que, embora houvesse momentos em que eles poderiam ser inadequados, o ensino e a pregação da Palavra de Deus sempre estavam no tempo adequado.
Genuínos milagres e sinais não estão em evidência hoje; mas a Palavra de Deus permanece. Sejamos gratos pelo fato de a Palavra estar sempre na estação apropriada e sejamos diligentes em plantá-la.
O envio dos doze foi a inauguração de uma extensão do ministério e serviço do Senhor. Até então, todos haviam estado em Suas próprias mãos, com os discípulos como espectadores; agora eles devem agir em Seu nome. Ele era absolutamente suficiente em Si mesmo: eles não são suficientes, e então devem sair de dois em dois. Existe ajuda e coragem na companhia, pois onde um é fraco, o outro pode ser forte, e aqu’Ele que os enviou sabia exatamente como pareá-los juntos. O companheirismo é especialmente útil quando o trabalho pioneiro está sendo feito; e assim nos Atos vemos Paulo agindo sob esta instrução do Senhor. O serviço é uma questão individual, é verdade, mas até hoje fazemos bem em estimar corretamente a comunhão no serviço: “somos cooperadores de Deus” (1 Co 3:9).
Antes de saírem, receberam poder ou autoridade que lhes foi dada sobre todo o poder de Satanás. Eles também receberam instruções para se desfazer até mesmo das necessidades ordinárias, levadas pelo viajante daqueles dias. Além disso, eles receberam sua mensagem. Como seu Mestre havia pregado o arrependimento em vista do reino (cap. 1:15), eles também deveriam pregá-lo.
Aqueles que servem hoje não possuem sua comissão vinda de Cristo na Terra, mas de Cristo no céu; e isso introduz certas modificações. Nossa mensagem centra-se na morte, ressurreição e glória de Cristo, ao passo que a deles, na própria natureza das coisas, não poderia ser assim. Eles descartaram as necessidades da viagem, na medida em que representavam o Messias na Terra, que não tinha nada, mas que era bem capaz de sustentá-los. Somos seguidores de um Cristo que Se elevou, e Seu poder é geralmente exercido para libertar Seus servos da dependência de ornamentos de natureza espiritual, e não daqueles de natureza material. Contudo, podemos certamente ter grande consolo com o pensamento de que Ele não envia Seus servos adiante sem lhes dar poder para o serviço diante deles. Se nosso serviço for para expulsar demônios, Ele nos dará poder para fazê-lo; E se o nosso serviço não é isso, mas alguma outra coisa, então teremos o poder para essa outra coisa.
Eles – e nós também – deviam ser marcados pela maior simplicidade: não andar de casa em casa em busca de algo melhor. Eles O representaram. Ele agiu por procuração por meio deles; e, portanto, recusá-los era recusar-Lhe. Sua fala no versículo 11, quanto a Sodoma e Gomorra, é semelhante ao que Ele disse sobre Si mesmo em Mateus 11:21-24. Aqueles que O servem hoje não são apóstolos, mas ainda que em menor grau a mesma coisa, sem dúvida, é válida. A mensagem de Deus não é menos Sua mensagem porque vem por meio de lábios débeis.
Seu serviço, seja na pregação, expulsando demônios ou na cura, foi tão eficaz que Seu Nome – não o deles – foi espalhado amplamente, e até mesmo Herodes ouviu Sua fama. Este miserável rei tinha uma consciência tão má que ele assumiu imediatamente que João Batista, sua vítima, tinha ressuscitado. Outros consideravam que Cristo era Elias, ou um dos antigos profetas. Ninguém sabia, pois ninguém pensava em Deus como capaz de fazer alguma coisa nova.
Neste ponto, Marcos desvia um pouco o assunto para nos contar, nos versículos 17 a 28, como João foi morto a mando de uma mulher vingativa. Sendo o homem mau que era, Herodes possuía uma consciência que lhe falou, e vemos a astuta maestria pela qual o diabo o capturou. A armadilha foi colocada por meio de uma jovem de rosto e formas belos, uma mulher mais velha atraente e vingativa e uma tola vaidade que fez o infeliz rei pensar muito mais em seu juramento do que na lei de Deus. Assim, o homem vaidoso e lascivo foi manobrado ao ato do homicídio, com a condenação final sobre si mesmo. Sua consciência inquieta só provocou medos supersticiosos.
No versículo 29, Marcos simplesmente registra que os discípulos de João fizeram o enterro do seu corpo mutilado. Ele não acrescenta, como Mateus, que eles “foram anunciá-lo a Jesus” (Mt 14:12). Ele passa a registrar o retorno dos discípulos de suas jornadas, dizendo ao seu Mestre tudo o que eles haviam feito e ensinado. Foi então que o Senhor os retirou para um lugar deserto, para além da multidão e do serviço ativo, para poderem passar um tempo quieto em Sua presença. É instrutivo notar que a passagem em Mateus torna quase certo que os discípulos angustiados de João também chegaram exatamente naquele momento.
Nunca nos esqueçamos de que um período de descanso na presença do Senhor, fora da vista dos homens, é necessário após um período de serviço intenso. Os discípulos de João vieram do seu triste serviço com um coração pesado e angustiado. Os doze vieram de encontros triunfantes com o poder de demônios e doenças, provavelmente entusiasmados pelo sucesso. Ambos precisavam da quietude da presença do Senhor, que serve igualmente para levantar o coração abatido e controlar a indevida exaltação do espírito.
No entanto, o período de descanso foi curto, pois as pessoas buscavam por Ele às multidões, e Ele não as dispensaria. O coração do grande Servo aparece mais admiravelmente no versículo 34, onde nos é dito que Ele “teve compaixão deles”. A visão deles, “como ovelhas que não têm pastor”, apenas produziu compaixão n’Ele, não – como muitas vezes acontece conosco, infelizmente! – sentimentos de aborrecimento ou desprezo. Ele foi movido pela compaixão que sentiu; essa é a maravilha disso.
Sua compaixão O levou em duas direções. Primeira, a ministrar-lhes as coisas espirituais. Segunda, a ministrar-lhes as coisas carnais. Observe a ordem: o espiritual veio primeiro. Ele “começou a ensinar-lhes muitas coisas”, embora o que Ele disse não esteja registrado; então, quando a noite chegou, Ele aliviou a fome deles. Vamos aprender com isso como agir. Se os homens têm necessidades corporais, é bom que atendamos a eles de acordo com nossa capacidade; mas vamos sempre manter a Palavra de Deus em primeiro lugar. As necessidades do corpo nunca devem prevalecer sobre as necessidades da alma, em nosso serviço.
Ao alimentar os cinco mil, o Senhor primeiramente testou Seus discípulos. Quanto eles haviam absorvido em relação à Sua suficiência? Muito pouco aparentemente, pois em resposta à Sua palavra: “Dai-lhes vós de comer”, eles pensam em recursos humanos e em dinheiro. Ora, nenhum dos recursos humanos de qualquer tipo que estavam presentes foi ignorado. Eles eram muito insignificantes, mas foram tomados por Jesus, pois neles Seu poder poderia ser manifestado. Ele poderia ter transformado pedras em pão ou até produzido pão do nada; mas a Sua maneira foi utilizar os cinco pães e dois peixes.
Seu trabalho foi realizado exatamente desta maneira ao longo da presente época. Seus servos possuem certas pequenas coisas, que Ele tem o prazer de usar. E mais, Ele dispensou Sua generosidade de uma maneira ordenada, as pessoas sentadas em grupos de cem em cem e de cinquenta em cinquenta, e Ele empregou Seus discípulos no trabalho. Os pés e mãos que transportavam a comida para as pessoas eram os deles. Hoje os pés e as mãos de Seus servos são usados, suas mentes e lábios são colocados à Sua disposição, para que o pão da vida alcance os necessitados. Mas o poder que produz resultados é totalmente d’Ele. A própria fraqueza dos meios usados ​​torna isso manifesto.
Como Servo perfeito, Ele teve o cuidado de conectar tudo o que fez com o céu. Antes do milagre, Ele olhou para o céu e deu graças (TB). Desse modo, os pensamentos da multidão foram dirigidos a Deus como a Fonte de tudo, e não a Si mesmo, o Servo de Deus na Terra. Uma palavra para nós mesmos, contendo um princípio semelhante, é encontrada em 1 Pedro 4:11. O servo que ministra alimento espiritual deve fazê-lo a partir de Deus, para que Deus seja glorificado nisso e não o servo.
Também podemos extrair encorajamento do fato de que, quando a grande multidão era alimentada, muito mais havia sobrado do que o pouco com o qual eles haviam começado. Os recursos divinos são inesgotáveis, e o servo que confia em seu Mestre nunca ficará sem suprimentos. A este respeito, há uma semelhança muito feliz entre os pães e os peixes colocados nas mãos dos discípulos e a Bíblia colocada nas mãos dos discípulos hoje.
Havendo finalizado a alimentação da multidão, o Senhor logo enviou os Seus discípulos para o outro lado do lago e Se entregou à oração. Ele não só conectou tudo com o céu pela ação de graças na presença do povo, mas sempre manteve o contato para Si mesmo como o Servo da vontade Divina. Em João 6, aprendemos que neste ponto o povo estava entusiasmado e faria d’Ele um rei à força. Os discípulos poderiam ter sido apanhados por isso, mas Ele não foi.

A travessia do lago forneceu aos discípulos uma nova demonstração de Quem era o Seu Mestre. O vento contrário impedia o progresso deles, e, com dificuldade, avançaram devagar. Ele novamente Se mostrou supremamente acima do vento e das ondas, andando sobre a água e capaz de passar por eles. Sua palavra acalmou seus medos e Sua presença em seu barco acabou com a tempestade. Apesar de tudo isso, o real significado disso lhes escapou. Seus corações ainda não estavam prontos para aceitá-Lo. No entanto, as pessoas no geral aprenderam a reconhecer o Senhor e Seu poder. Abundância de necessidade foi apresentada a Ele, e Ele a respondeu com abundância de graça.

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