terça-feira, 16 de julho de 2019

MARCOS 13

MARCOS 13

A predição do Senhor de que o Templo deveria ser totalmente destruído levou ao Seu discurso profético. Os discípulos não questionaram o cumprimento de Suas palavras, eles só queriam saber o tempo de seu cumprimento e, fiel aos seus instintos judaicos, qual seria o sinal disso. Sua resposta às suas perguntas é muito instrutiva.
Em primeiro lugar, Ele não fixou datas: qualquer resposta que Ele deu sobre tempo era de um tipo indireto. Em segundo lugar, Ele foi além da esfera imediata de suas perguntas, falando de assuntos maiores dos últimos dias e Seu próprio advento em glória. Esta característica é vista em muitas profecias do Velho Testamento, que foram dadas em vista de algum evento iminente da história, e que definitivamente se aplicava àquele evento, e ainda assim foram formuladas de modo a se aplicarem, com ainda maior plenitude, aos eventos que ocorrerão nos últimos dias. No caso diante de nós, houve um cumprimento na destruição causada por Roma no ano 70 d.C., que é apresentada mais claramente no discurso de Lucas sobre esse evento, mas ainda o seu cumprimento está conectado com a vinda do Senhor. Esta característica da profecia é aludida no ditado: “Nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação” (2 Pe 1:20).
Em terceiro lugar, Ele colocou todo o peso de Sua profecia sobre as consciências e corações de Seus ouvintes. Se a pergunta deles foi motivada por uma considerável dose de curiosidade, Ele elevou toda a questão a um plano muito mais elevado, com Suas palavras iniciais: “Olhai que ninguém vos engane”. O curso das coisas que a profecia revela contradiz tudo o que os homens naturalmente esperariam. A atratividade dos falsos profetas reside no fato de que eles sempre predizem coisas que se enquadram nos desejos dos homens e parecem eminentemente razoáveis. Devemos estar vigilantes, pois os falsos profetas são abundantes hoje nos púlpitos da Cristandade.
A primeira advertência, no versículo 6, diz respeito àqueles que se levantam dizendo ser o Cristo. O ponto central do conflito está sempre aqui. O diabo sabe que, se puder enganar os homens quanto a Cristo, poderá enganá-los em todo o resto. Se estivermos errados quanto ao centro, estaremos errados por toda a circunferência. Estar o nosso conhecimento enraizado no verdadeiro Cristo se torna prova para nós contra as seduções dos falsos.
Em seguida, somos avisados ​​para não esperar momentos fáceis com as condições do mundo. Guerras e tumultos entre as nações e distúrbios na natureza são esperados. Essas coisas não devem ser interpretadas como um indicativo do grande clímax, pois são apenas os espasmos preliminares. Além disso, os discípulos do Senhor devem esperar ser confrontados com dificuldades especiais. Eles serão submetidos à oposição e perseguição, e seus parentes mais próximos se tornarão contra eles, e o ódio dos homens no geral deve ser sua porção. Contra isso, contudo, o Senhor estabelece o fato de que essas circunstâncias adversas se tornarão em ocasiões de testemunho, e que eles teriam apoio e sabedoria especiais, quanto ao que haviam de dizer, vindas do Espírito Santo.
Alguns deduziram do versículo 10, lendo isto em conjunção com Mateus 24:14, que o Senhor não pode vir por Seus santos até que o evangelho tenha sido levado a todas as nações de hoje. Mas temos que ter em mente que os discípulos, a quem o Senhor estava Se dirigindo, eram naquele momento o remanescente temente a Deus em Israel, e ainda não tinham sido batizados em um só corpo, a Igreja: e também que o “evangelho” nesse versículo é um termo geral que cobriria não somente a mensagem que está sendo pregada hoje, mas também aquele “evangelho do reino” do qual fala Mateus, e que será levado adiante pelo remanescente temente a Deus, que será levantado depois que a Igreja for levada.
O versículo 14 nos dá o sinal pedido pelos discípulos. Daniel fala da “abominação que assola” (Dn 12:11 – TB), e isso é mencionado em nosso versículo, pois pela a palavra “assolamento”, nos é dito que “é uma palavra ativa”, tendo a força de “causar desolação”.
Deve haver o estabelecimento público de um ídolo no santuário em Jerusalém – tal como nos foi predito em Apocalipse 13:14-15 – um insulto a Deus do tipo mais flagrante. Esse sinal vai indicar duas coisas: primeiro, que o tempo da especial aflição, da qual Daniel 12:1 fala, começou, e: segundo, que o fim do século[1], e a intervenção de Cristo em Sua glória, estão muito próximos. O restante do discurso do Senhor está ocupado com essas duas coisas. Os versículos 15 a 23 tratam da primeira; versículos 24-27 tratam da segunda.
A linguagem do versículo 19 mostra que o Senhor tinha a grande tribulação em vista, e os versículos anteriores mostram que seu centro e fúria mais intensa se encontram na Judeia. Versículos 15 e 16 indicariam que ele irá começar com grande rapidez. O voo instantâneo será o único caminho de escape para aqueles que temem a Deus. Sua ferocidade será tal que, se fosse permitido transcorrer um longo curso, isso significaria extermínio. Por causa dos eleitos não irá ser permitida continuar, mas será interrompida pelo advento de Cristo.  Daniel 9:27 nos diz que a “tal aflição” começará, quando a cabeça do império romano reavivado fizer “cessar o sacrifício e a oferta de manjares”, no meio dos últimos sete anos. Sendo assim, haverá apenas três anos e meio para transcorrer antes que o Senhor Jesus ponha fim a isto por Sua gloriosa Aparição.
Pela tribulação o diabo vai buscar esmagar e exterminar os eleitos. Mas isso não é tudo, como mostram os versículos 21 e 22. Haverá nesse momento um número especial de falsos cristos e profetas aparecendo, por quem ele espera seduzir os eleitos. Ele realizaria isso “se possível fora” (TB). Graças a Deus, isso não é possível. Os verdadeiros santos vão saber que o verdadeiro Cristo não vai Se esconder em algum canto, de modo que os homens tenham que dizer: “Eis aqui o Cristo, ou, ei-Lo ali”. Ele brilhará em Sua glória na Sua vinda, e todo olho O verá.
A tribulação vai chegar a seu fim em convulsões finais que irão afetar até mesmo os céus, como os versículos 24 e 25 mostram. Sol, Lua e estrelas são às vezes usados ​​na Escritura como símbolos de poder supremo, poder derivado e poder subordinado, respectivamente; e “poderes que estão no céu” (AIBB) estão em vista, como mostra a última parte do versículo 25. Ainda este discurso do Senhor não é marcado por um grande uso de símbolos, como é o livro do Apocalipse. Então pensamos que as convulsões literais que afetam os corpos celestes não devem ser excluídas, especialmente porque sabemos que houve um blecaute literal do Sol quando Jesus morreu. O escurecimento daquele dia servirá para lançar maior destaque à liberação do brilho do Seu fulgor, quando Ele vem nas nuvens com grande poder e glória.
A Aparição gloriosa do Filho do Homem será seguida pela reunião dos “Seus eleitos” (TB). Estes foram mencionados no versículo 20, e eles são aqueles que perseveram “até ao fim” (v. 13), e eles serão salvos pela Aparição de Cristo. Esses eleitos são o remanescente de Israel fiel a Deus, nos últimos dias; pois o Senhor estava Se dirigindo aos Seus discípulos que naquele momento eram o remanescente temente a Deus no meio de Israel, e sem dúvida teriam entendido Suas palavras nesse sentido. Esses eleitos serão encontrados em todas as partes da Terra, e os instrumentos usados ​​em sua reunião serão anjos: reunidos, eles se tornarão o Israel redimido que vai entrar no reino milenar. Tudo isso deve ser diferenciado da vinda do Senhor para Seus santos como previsto em 1 Tessalonicenses 4, quando o próprio Senhor descerá do céu e nossa reunião será para Ele.
A alusão à figueira no versículo 28 é uma parábola e, portanto, devemos esperar encontrar nela um significado mais profundo do que aquele que é conectado com uma figura ou uma ilustração. A figueira sem dúvida representa Israel, como vimos na leitura de Marcos 11, e, portanto, o surgimento de seus ramos estabelece o início do reavivamento nacional com esse povo. O “verão” representa a era da bem-aventurança milenar para a Terra. Quando o real reavivamento nacional se instala para Israel, então a aparição de Cristo e a era milenar estão muito próximas.
A palavra “geração” no versículo 30 é evidentemente usada em um sentido moral e não em um sentido literal, pessoas de certo tipo e caráter, assim como o Senhor usou a palavra em Marcos 9:19 e em Lucas 11:29. A geração incrédula não passará até o segundo advento, nem mesmo irá passar a geração daqueles que buscam ao Senhor. A vinda do Senhor vai significar o desaparecimento da geração má, e ao mesmo tempo o pleno estabelecimento de todas as Suas palavras, que são mais firmes e mais duráveis do que todas as coisas criadas.
O versículo 32 tem apresentado muita dificuldade a muitas mentes por causa das palavras “nem o Filho”. Podemos não ser capazes de explicá-las completamente, mas podemos pelo menos dizer duas coisas. Primeiro, que neste evangelho o Senhor é apresentado como o grande Profeta de Deus, e que este era um assunto reservado pelo Pai e não dado a Ele, como um Profeta, revelar. Segundo, se Mateus 20:23 e João 5:30 fossem lidos e comparados com nosso versículo, veríamos que as três passagens correm em linhas paralelas, quanto a conceder, conhecer e fazer, respectivamente. Em Mateus, temos as exatas palavras: “Não Me compete concedê-lo. Poderíamos resumir Marcos como “não Me compete sabê-lo” e João como “não Me compete fazê-lo”. A incredulidade fez grande uso da palavra usada em Filipenses 2:7, “aniquilou-Se a Si mesmo”, ou mais literalmente, “esvaziou-Se” (TB), construindo sobre isso a teoria de que Ele Se despojou do conhecimento para Se tornar um judeu com as noções de Seu tempo; e assim eles estão habilitados – assim eles pensam – para imputar erro a Ele em muitos pontos. Ele Se esvaziou, pois as Escrituras dizem que Ele fez isso. As três passagens que mencionamos nos dão uma ideia apropriada do que estava envolvido nisso, e nos levam a bendizer Seu Nome por Seu gracioso abaixamento. A teoria da incredulidade O roubaria de Sua glória, e a nós de qualquer consideração por Suas palavras – palavras as quais, como Ele acabou de nos dizer, nunca passarão.
Os cinco versículos que encerram este capítulo contêm um apelo muito solene, que deve ser aprofundado em todos nós. No versículo 33, recebemos pela quarta vez as palavras: “Estais de sobreaviso ... vigiai” (ARA). O Senhor abriu Seu discurso com estas palavras, e o fechou com elas, e as pronunciou duas vezes entre elas (vs. 9 e 23). As revelações proféticas que Ele deu são todas feitas para ter um peso sobre nossas consciências e vidas: Ele nos previne para que estejamos preparados. Conhecendo a infalibilidade de Suas palavras, mas não sabendo quando é a hora, devemos “vigiar”, isto é, estar ardentemente despertados e observando, e também orar, pois não somos páreo para os poderes das trevas, e assim devemos manter a dependência de Deus. Somos deixados aqui para fazer nosso trabalho designado em um espírito de expectativa, antecipando a vinda do Filho do Homem.
A tríplice repetição da palavra “vigiar” nesses cinco versículos é muito impressionante. Devemos colocar grande ênfase nisso em nossas mentes, e mais ainda porque nossa porção caiu nesses últimos dias desta dispensação, quando Sua vinda não pode estar muito distante. É muito fácil sucumbir à atração do mundo, quando nossas mentes se tornam sonolentas e desatentas. Uma ótima e importante palavra é esta – VIGIAI. E o último versículo do nosso capítulo mostra que certamente se destina a aplicar-se a nós.



[1]  N. do T.: O Senhor Se referiu a dois “séculos”: “o presente século” (o período mosaico, desde o Sinai, com a entrega da Lei,  até a Sua Aparição, no final da tribulação. Após Sua rejeição, o “presente século” tornou-se “o presente século mau– Gl 1:4), e o “século futuro” (Mt 12:32) – o Milênio. Também houve “outros séculos” (Ef 3:5) – os períodos antediluviano, Patriarcal etc., e haverá também os “séculos dos séculos” – a eternidade (Gl 1:5 – ARA).

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