quarta-feira, 17 de julho de 2019

MARCOS 16

MARCOS 16

O amor e a fé estavam claramente ali, mas até agora a fé deles era vagarosa e pouco inteligente quanto à Sua ressurreição. Até mesmo as mulheres devotadas estavam cheias de pensamentos quanto ao embalsamamento de Seu corpo, como mostram os versículos iniciais deste capítulo. Mas essa vagarosidade deles apenas aumenta a clareza das provas que, por fim, os sobrepujaram com a convicção de Sua ressurreição. Ao nascer do Sol, no primeiro dia da semana, estavam no sepulcro, apenas para descobrir que a grande pedra, que bloqueava a entrada, havia sido rolada dali. Eles entraram para encontrar não um corpo sagrado, mas um anjo, da aparência de um jovem.
Mateus e Marcos falam de um anjo: Lucas e João falam de dois. Isso não apresenta nenhuma dificuldade, pois os anjos aparecem e desaparecem à vontade. O anjo, que apareceu como “um jovem ... vestido de uma roupa comprida, branca” para as mulheres temerosas, havia aparecido um pouco antes para os guardas como alguém com um aspecto de “um relâmpago, e o seu vestido branco como neve”, de modo que uma espécie de paralisia caiu sobre eles. Ele foi uma coisa para o mundo e outra bem diferente para os discípulos. Ele sabia como discriminar, e que essas mulheres estavam procurando por Jesus, embora pensassem que Ele ainda estivesse na morte. Eram ignorantes, contudo elas O amavam; e isso fez toda a diferença.
O testemunho angélico, porém, não operou muito no momento. Isso impressionou as mulheres, mas principalmente na forma de medo, tremor e assombro. Não produziu aquela calma certeza de fé que abre a boca em testemunho aos outros. Elas ainda não podiam entender as palavras: “Cri, por isso falei” (Sl 116:10; 2 Co 4:13). Em breve eles compartilhariam esse “espírito de fé”, que era possuído tanto por Paulo como pelo salmista, mas isso seria quando eles entrassem em contato, por si mesmos, com o Cristo ressuscitado.
As escrituras indicam claramente que os anjos têm um ministério para realizar a favor dos santos – como testemunho (Hb 1:14). Seu ministério aos santos é pouco frequente e, geralmente, alarmante para aqueles que o recebe, como foi o caso aqui. No entanto, a mensagem deles era bem definida. “(Ele) não está aqui”, foi a parte negativa, e que as mulheres puderam verificar por si mesmas. A palavra positiva foi: “Ele ressuscitou” (ARA). Isso elas não puderam verificar, por enquanto, e, portanto, não parecem tê-las impressionado profundamente.
Segue-se, nos versículos 9-14, um breve resumo das três impressionantes aparições do Senhor ressuscitado; relatos que nos são mais detalhados nos outros evangelhos.
Primeiro vem o de Maria Madalena, que nos é dado tão plenamente no evangelho de João. Ela foi a primeira a realmente ver o Senhor em ressurreição: Marcos coloca esse fato além de qualquer dúvida. Isso é significativo, pois mostra que o Senhor pensava em primeiro lugar naquele cujo coração fosse talvez mais devastado pela Sua perda do que por qualquer outro. Em outras palavras, o amor teve a primeira reivindicação em Sua atenção. Como resultado, ela realmente acreditava e, portanto, era capaz de falar na forma de testemunho aos outros. Mas, mesmo assim, suas palavras não tiveram efeito apreciável. Os outros realmente amavam o Senhor, pois lamentaram e choraram, e a própria profundidade de sua dor mostrou evidência de seu amor pelo Senhor embora ainda não O tivessem visto.
Em segundo lugar, vem a Sua Aparição para os dois que iam de caminho para o campo, que nos é dado em Lucas com tantos detalhes. Estes não haviam negado a Ele como Pedro fez, mas tinham perdido tanta afeição que se afastavam de Jerusalém sem rumo certo, como se agora desejassem dar as costas a um lugar para eles cheio de esperanças frustradas e a mais trágica perda e desapontamento. Sua visão do Cristo ressuscitado reverteu seus passos e os trouxe de volta a seus irmãos com as boas-novas. Mesmo isso, no entanto, não superou o seu desprezo incrédulo. Aconteceu assim como acontece conosco. Ressurreição nos leva para fora da atual ordem das coisas, e Sua ressurreição é um fato de tão imensa importância que deve, de fato, ser estabelecido por múltiplas evidências incontestáveis.
Terceiro, Sua aparição aos onze. Talvez essa não seja uma das ocasiões que nos são apresentadas com mais detalhes em Lucas e João, pois diz: “estando eles reclinados à mesa” (AIBB). Tome o relato em Lucas, por exemplo – Ele dificilmente teria perguntado: “Tendes aqui alguma coisa que comer?” se eles estivessem se reclinando à refeição. A presença de comida teria sido óbvia demais. Pode, portanto, esta ter sido uma ocasião não relatada nos outros evangelhos. Nesta ocasião Ele manifestou a incredulidade deles como uma questão de reprovação, e ainda assim, Ele lhes deu uma comissão.
É notável como as comissões registradas nos quatro evangelhos diferem uma da outra. Aquilo que é afirmado em Atos 1:3, nos prepararia para isso. Muitas vezes durante os quarenta dias Ele apareceu para eles, falando de coisas relacionadas ao reino de Deus. Durante esse tempo, Ele evidentemente apresentou a eles sua comissão sob diferentes pontos de vista, e Marcos nos dá um deles. Podemos muito bem nos admirar que, tendo sido forçado a censurá-los por sua incredulidade, Ele iria enviá-los para pregar o evangelho para que os outros creiam. No entanto, aquele que pela dureza de coração tem sido teimoso na incredulidade é, quando completamente conquistado, uma testemunha valiosa para os outros.
O escopo desta comissão do evangelho é o maior possível. É “todo o mundo” e não apenas a pequena terra de Israel. Além disso, deve ser pregado a “toda criatura”, e não apenas ao judeu. É, em outras palavras, para todos em todos os lugares. A bênção que o evangelho transmite é de natureza espiritual, pois traz salvação, quando a fé está presente e o batismo é submetido. Não devemos transpor as palavras, batizado e salvo, e escrever: “Quem crer e for salvo, será batizado”.
Em nenhuma escritura o batismo está ligado à justificação ou à reconciliação, mas há outras escrituras que conectam o batismo com a salvação. Isto é porque salvação é uma palavra de grande abrangência, e inclui dentro de seu escopo a libertação prática do crente de todo o sistema mundial, seja do caráter judaico ou gentio, em que uma vez ele estava conectado. Suas ligações com esse sistema mundial devem ser cortadas, e o batismo estabelece o corte desses elos – em uma palavra, a dissociação. Aquele que crê no evangelho e aceita o corte de suas ligações com o mundo que o prendeu, é um homem salvo. Um homem pode dizer que ele crê, e até mesmo o faz na realidade, mas se ele não se submeter ao corte dos velhos elos, ele não pode ser considerado salvo. O Senhor conhece os que são Seus, claro, mas isso é outro assunto.
Quando se trata de “condenação”, o batismo não é mencionado. Isso é muito significativo. Mostra o terreno sobre o qual repousa a condenação. Mesmo que um homem seja batizado, se ele não crer, será condenado. A ordenança externa é claramente prescrita pelo Senhor, mas só pode ser administrada se fé é professada; e a profissão, como sabemos muito bem, não é sinônimo de posse. A salvação não é eficaz à parte de fé. 
Uma boa dose de controvérsia se espalhou em torno dos versículos 17 e 18. As coisas milagrosas mencionadas estão relacionadas por alguns com os pregadores do evangelho, e afirma-se que elas devem estar em plena manifestação hoje. Duas ou três coisas podem ser úteis.
Em primeiro lugar, as coisas devem seguir não os que pregam, mas os que creem.
Em segundo lugar, o Senhor afirma que esses sinais se seguirão, independentemente de quaisquer condições anteriores por parte do pregador. Não há estipulação de que ele deva experimentar um “batismo do Espírito” especial, como é frequentemente instigado. Se os homens crerem, estes sinais seguirão; assim diz o Senhor. Tudo o que poderia ser deduzido de sua ausência seria que ninguém realmente creu.
Em terceiro lugar, certas palavras não aparecem na declaração, e que alguns parecem ler mentalmente. Ela não diz que estes sinais vão seguir todos que creem, em todos os lugares, e todo o tempo. Se dissessem assim, deveríamos chegar à conclusão de que até hoje quase ninguém creu no evangelho; nem nós mesmos cremos nele!
Estas palavras do nosso Senhor, é claro, foram cumpridas. Podemos apontar quatro coisas das cinco ocorrências, conforme registrado no livro de Atos. A quinta coisa, beber sem dano de alguma coisa mortífera, não temos registro disso, mas não temos sombra de dúvida de que isso aconteceu. Ele disse que aconteceria e acreditamos n’Ele. Sua palavra é suficiente para nós. Ele dá os sinais de acordo com o Seu próprio prazer e quando vê que sejam necessários.
Os dois versículos que encerram o nosso evangelho são extremamente formosos. Lembramos que ele colocou diante de nós nosso Senhor como o grande Profeta, que nos trouxe a completa Palavra de Deus, o Servo perfeito, que realizou plenamente Sua vontade. Tudo foi relatado com notável brevidade, como se torna tal apresentação de Si mesmo. E agora, no final, com a mesma brevidade, o fim da maravilhosa história está diante de nós. Tendo o Senhor comunicado aos Seus discípulos tudo o que desejava: “foi recebido no céu e assentou-Se à direita de Deus”.
Da Terra Ele foi expulso, mas é recebido no céu. Suas obras na Terra foram recusadas, mas agora Ele toma Seu assento em uma posição que indica administração e poder de um tipo irresistível. Mas é colocado que Ele foi “recebido”, e assim o que é enfatizado é que tanto a Sua recepção como a Sua sessão de administração são devidas a um ato de Deus. O Servo perfeito pode ter sido recusado aqui, mas pelo ato de Deus, Ele toma o lugar do poder, onde nada impedirá Sua mão de realizar a vontade do Senhor.
O último versículo indica a direção em que Sua mão está se movendo durante o tempo presente. Ele ainda não está tratando com a Terra rebelde no governo justo: isso Ele fará quando a hora chegar, de acordo com o propósito de Deus. Hoje, Seus interesses estão centrados na propagação do evangelho, como Ele acabara de indicar. Seus discípulos saíram pregando sem fronteiras ou limitações, mas o poder que deu eficácia às palavras e trabalhos deles era Seu, e não deles. De Seu elevado assento no alto, Ele trabalhou com eles e deu os sinais que Ele prometeu, conforme registrado nos versículos 17 e 18. Ele deu estes sinais para confirmar a palavra, e essa confirmação foi especialmente necessária no início de sua proclamação.
Embora os sinais dos versículos 17 e 18 sejam raramente vistos hoje, os sinais ainda seguem a pregação, sinais na esfera moral e espiritual – personalidades e vidas são completamente transformadas. O Servo perfeito, à destra de Deus, ainda está trabalhando.

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