terça-feira, 16 de julho de 2019

MARCOS 11

MARCOS 11

Jesus agora Se aproximou de Jerusalém. Seus discípulos estavam em Sua comitiva, não apenas aqueles que haviam passado três anos na companhia d’Ele, mas também Bartimeu, que havia passado talvez três horas. Betânia era o lar de alguns que O amavam, e lá Ele encontrou o jumentinho, para que pudesse entrar na cidade como Zacarias havia predito. O Senhor tinha necessidade daquele jumentinho, e Ele sabia quem era o proprietário e que Sua necessidade encontraria uma resposta pronta. Ele era o Servo da vontade de Deus, e Ele sabia onde colocar Sua mão sobre tudo o que era necessário para cumprir o Seu serviço, quer seja o jumento deste capítulo, ou o aposento em Marcos 14, ou como em outras ocasiões.
Ele entrou como o profeta disse que Ele entraria “justo”, “humilde” e “trazendo a salvação” (AIBB). Houve uma irrupção de entusiasmo transitório, mas os homens não tinham desejo permanente pelo que era justo, e a santidade não os atraía. Além disso, a salvação que desejavam era de um tipo meramente exterior: eles ficariam felizes em se libertar da tirania de Roma, mas não tinham desejo de ser libertados da escravidão do pecado. Suas hosanas[1] tinham em vista o reino de Davi o qual esperavam que estivesse chegando e, portanto, seus clamores logo se desvaneceram. O Senhor dirigiu-Se diretamente ao coração das coisas ao entrar no templo. Quanto às relações de Israel com o seu Deus, este era o centro de todos; e aqui seu estado religioso era mais manifesto. Tudo veio sob Sua inspeção, porque Ele olhou para “tudo em redor”.
O incidente sobre a figueira aconteceu na manhã seguinte. A figueira é simbólica de Israel, e mais particularmente do remanescente da nação que havia sido restaurado à terra de seus pais e entre os quais Cristo havia vindo. Lucas 13:6-9 mostra isso. Toda a nação havia sido a vinha do Senhor, e o remanescente restaurado era como uma figueira plantada naquela vinha. Tendo o Rei entrado, de acordo com a palavra profética, o supremo momento de prova havia chegado. Não havia nada além de folhas. Embora não fosse a época dos figos, deveria haver muitos figos imaturos – a promessa de futura fecundidade. A figueira era inútil e para sempre não deveria produzir fruto.
Depois disso, nos versículos 15-19, temos a ação do Senhor na purificação do templo. O pensamento de Deus em estabelecer Sua casa em Jerusalém era para que pudesse ser um lugar de oração para todas as nações. Se algum homem, sem importar a que raça pertencesse, estivesse procurando por Deus, poderia ir a essa casa e entrar em contato com Ele. Os judeus haviam a transformado em um covil de ladrões. Este foi o espetáculo aterrador que encontrou Seu santo olhar quando inspecionou a casa na noite anterior.
Os judeus, sem dúvida, teriam se provido de boas razões para permitir essas abominações. Não precisaram os estrangeiros cambiar suas variadas moedas? Não eram os pombos uma necessidade para os mais pobres que não podiam pagar sacrifícios maiores? Mas tudo isso havia sido rebaixado a um interesse de se fazer dinheiro. O homem que vinha de longe buscando a Deus poderia facilmente ser repelido quando chegasse à casa pela desonestidade daqueles que estavam ligados a ela. Um terrível estado de coisas! Os guardiões da casa eram um bando de ladrões, e o Senhor lhes disse isso. Isso despertou a fúria nos escribas e sacerdotes, e determinaram Sua morte.
Males semelhantes a esses têm sido há muito tempo manifestados na Cristandade. Isso é uma coisa terrível de se dizer, mas a verdade exige que isso seja dito. Mais uma vez, a religião se transformou em uma preocupação de se fazer dinheiro, tanto que aquele que queria buscar a Deus era muitas vezes repelido. Isso pode ser visto em suas formas mais extravagantes no grande sistema romanista, mas pode ser vista aqui de uma maneira modificada. É o erro de Balaão, e muitos correm atrás dele “movidos de ganância”, como nos diz Judas 11 (ARA). Vigiemos para que cuidadosamente o evitemos. A casa de Deus na Terra hoje é formada de santos – não pedras mortas, mas de “pedras vivas” – mas temos que aprender como devemos nos comportar nela, e a primeira carta de Paulo a Timóteo nos dá as instruções necessárias. Nessa carta palavras como estas são preeminentes: “Não avarento”, “Não cobiçoso de torpe ganância”, “privados da verdade, supondo que a piedade seja causa de ganho ... mas é grande ganho a piedade com contentamento ...” Se palavras como estas nos governam, seremos preservados desta armadilha.
Chegando à cidade na manhã seguinte, a figueira, à qual o Senhor havia falado, foi vista estando seca desde as raízes. A maldição que caíra sobre ela agiu de uma maneira contrária à natureza, que teria sido de cima para baixo. Este fato proclamou ser um ato de Deus, e Pedro foi tocado, e prestou atenção a isso, convidando assim o Senhor a comentar a ocorrência. Sua manifestação parece ser dupla, já que a palavra “Porque” (ARC, ARF, ARA, KJV), que inicia o versículo 23, parece ser de autoridade duvidosa.
A primeira coisa é: “Tende fé em Deus”. A tendência deles era ter fé nas coisas visíveis, no sistema mosaico, no templo, em si mesmos como um povo, ou em seus sacerdotes e líderes. Temos exatamente a mesma tendência, e podemos afixar facilmente nossa fé em sistemas, aos movimentos ou aos líderes dotados. Então, precisamos aprender justamente a mesma lição, que é que todas essas coisas falham, mas que Deus permanece. Ele é fiel e permanece como o Objeto da fé quando uma maldição cai sobre nossa querida pequena figueira. Literalmente a palavra é: “Tenha a fé de Deus”, é como se o Senhor nos dissesse: “Agarre-se à fidelidade de Deus, não importa o que venha a murchar e desaparecer”.
Mas isso levou à palavra adicional sobre a oração, na qual a ênfase é novamente colocada sobre a fé. “Qualquer que disser ... e não duvidar em seu coração, mas crer ... tudo o que disser lhe será feito”. O qualquer e o tudo o que faz disso uma declaração muito abrangente; tão extensa como quase tirando o fôlego. Mas está relacionada com a oração contemplada no versículo seguinte, onde temos: “Tudo o que pedirdes ... credo ... tê-lo-eis”. Em ambos os versículos tudo evidentemente depende do crer.
Ora a crença é fé, e fé não é apenas um produto humano, uma espécie de fantasia ou imaginação. No versículo 24, por exemplo, não é que, se ao menos eu puder imaginar que recebo meu pedido, então eu o recebo. Minhas orações de acordo com o versículo 24 e minhas palavras, de acordo com o versículo 23, devem ser o produto de fé genuína; e fé é a faculdade espiritual em mim que recebe a Palavra divina. Fé é o olho da alma, que recebe e aprecia a luz divina. Se a minha oração é baseada em fé inteligente, acreditarei que recebo, e realmente receberei a coisa desejada. E assim também com o que possa falar, como no versículo 23.
Casos que ilustram o versículo 23 podem ser citados do serviço missionário atual. Não poucas vezes, em terras pagãs, os servos do Senhor foram confrontados com tristes casos de possessão demoníaca desafiando o poder do evangelho. Com plena fé no poder do evangelho, eles tanto oraram como  falaram. O que eles falaram aconteceu e o demônio teve que sair.
Os versículos 25 e 26 introduzem um fator adicional de qualificação. Fé nos coloca em relações corretas com Deus, mas nossas relações com nossos semelhantes também devem estar corretas, se quisermos orar e falar eficazmente. Como aqueles que são recipientes de misericórdia, que foram tão grandemente perdoados, devemos estar cheios do espírito de misericórdia e perdão. Se não, estaremos expostos ao governo de Deus.
Estando novamente em Jerusalém e caminhando no templo, os principais sacerdotes e outras autoridades vieram desafiar a autoridade pela qual Ele havia agido na purificação do templo no dia anterior. O Senhor lhes respondeu, pedindo-lhes que se pronunciassem sobre uma questão preliminar quanto à validade ou não do batismo e ministério de João. Eles exigiam as credenciais do grande Mestre, mas e sobre das credenciais do Seu humilde precursor? Haveria tempo suficiente para considerar o problema maior quando resolvessem o menor. Deixemo-los decidir quanto à autoridade de João.
Eles foram traídos pela forma como lidaram com esse assunto. Eles não pensaram em ter que decidir o seu mérito; a única coisa que pesava com eles era a conveniência e, quanto a isso, foram perfurados pelos chifres dum dilema. A decisão de uma ou de outra maneira os colocaria numa dificuldade. Eles eram astutos o suficiente para perceber isso e, portanto, decidiram alegar ignorância. Mas essa alegação foi fatal para sua exigência de que o Senhor apresentasse Suas credenciais ao exame minucioso deles. Eles proclamaram sua incompetência no assunto mais simples, e por isso não podiam demandar o mais difícil.
“Do céu ou dos homens?” essa era a questão quanto a João. É também a questão quanto ao próprio Senhor. Em nossos dias, podemos ir mais longe e dizer que é a questão quanto à Bíblia. João era apenas um homem, mas seu ministério era do céu. O Senhor Jesus estava verdadeiramente aqui por meio da Virgem, contudo Ele era do céu, e assim também Seu incomparável ministério. A Bíblia é um livro que nos foi dado pelos homens, mas não é dos homens, pois os que escreveram foram “inspirados pelo [sob o poder do – JND] Espírito Santo” (2 Pe 1:21).
Uma vez que tenhamos em nossas almas uma convicção divina de que tanto a Palavra Viva quanto a Palavra escrita são do céu, a autoridade delas estará bem estabelecida em nossos corações.



[1] N. do T.: Essa palavra, que é a mesma no grego, é considerada ser composta de duas palavras hebraicas e significa “salve agora”, como em Salmo 118:25. No Novo Testamento o sentido parece ser “concede bençãos”. “Concede bênçãos sobre o Filho de Davi: concede bênção [Ó Tu que estás] ao mais alto” Mt 21:9; Mc 11:9-10; Jo 12:13

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