terça-feira, 16 de julho de 2019

MARCOS 12

MARCOS 12

No final de Marcos 11, ouvimos os líderes dos judeus alegando ignorância. Eles não puderam dizer se o batismo de João era do céu ou dos homens, e muito menos poderiam entender a obra e o serviço do Senhor. Neste capítulo percebemos claramente demonstrado que Ele os conhecia e os entendia perfeitamente. Ele conhecia seus motivos, seus pensamentos e o objetivo para o qual eles estavam se dirigindo. Ele revelou Seu conhecimento deles em uma parábola impressionante.
O primeiro versículo fala de “parábolas”, e o evangelho de Mateus nos mostra que neste momento Ele pronunciou três. Marcos registra apenas a segunda das três – aquela que predisse o que esses líderes judeus iriam fazer e quais seriam os resultados para eles. Nesta parábola, os “lavradores” representavam os líderes responsáveis ​​de Israel, e um resumo é fornecido da maneira pela qual, através dos séculos, eles rejeitaram todas as exigências de Deus.
Ao falar de uma vinha, o Senhor Jesus dando continuidade a uma figura que havia sido usada no Velho Testamento – Salmo 80; Isaías 5 e em outros lugares. No Salmo, a videira é claramente identificada com Israel, e dela virá um “Ramo” que é, “o Filho do Homem que fortificaste para Ti” (v. 17). Em Isaías é muito claro que Deus não estava recebendo nada de Sua vinha, aquilo que Ele tinha o direito de esperar. Agora achamos a história bem adiantada. O proprietário da vinha tinha feito a sua parte providenciando tudo o que era necessário e a responsabilidade quanto ao fruto estava com os lavradores a quem a vinha foi confiada. Eles falharam em sua responsabilidade e, em seguida, passaram a negar os direitos do proprietário e a maltratar seus representantes. Por último, foram provados pelo advento do filho do dono. Então os líderes de Israel haviam maltratado os profetas e matado alguns deles. E agora o Filho apareceu, que é o Ramo de Quem o salmo fala. Esta foi a prova suprema.
A posição do judeu, como estando sob a lei, é retratada nesta parábola. Consequentemente, a questão era se eles poderiam produzir aquilo que Deus exigia. Eles não o fizeram. Não só houve ausência de frutos, mas também houve a presença de ódio positivo contra Deus e contra aqueles que O representavam; e esse ódio atingiu seu clímax quando o Filho apareceu. Os líderes responsáveis ​​foram movidos por inveja, e desejavam monopolizar a herança para si mesmos, e assim estavam preparados para matá-Lo. Um ou dois dias antes tinham determinado a Sua morte, como nos disse o versículo 18 do último capítulo. Agora o Senhor descobre para eles que Ele conhecia seus maus pensamentos.
E Ele também mostrou a eles quais seriam as terríveis consequências para eles mesmos. Eles seriam destituídos e destruídos. Isso foi historicamente cumprido na destruição de Jerusalém e, sem dúvida, terá um cumprimento mais além e final nos últimos dias. Aqu’Ele que eles rejeitaram Se tornará a Cabeça dominante de tudo o que Deus está construindo para a eternidade. Quando essa previsão for cumprida, será de fato uma maravilha aos olhos de Israel.
A afirmação de que o senhor da vinha “dará a vinha a outros” é uma declaração do que vem mais plenamente à luz em João 15. Outros vão se tornar ramos na Videira verdadeira, e produzirão frutos: somente que eles não mais estarão sob a lei ao fazê-lo, nem serão selecionados dentre os judeus apenas. As palavras do Senhor eram um aviso de que Sua rejeição significaria que Deus os abandonaria, e que ajuntaria outras pessoas, até que finalmente aqu’Ele que eles rejeitaram dominaria tudo. Eles perceberam que a parábola pronunciava julgamento contra eles.
Não ousando, no momento, impor as mãos sobre Ele, iniciaram uma ofensiva verbal contra Ele, esforçando-se por pegá-Lo em Suas palavras. Primeiro vieram os fariseus em conjunto com os herodianos. Sua pergunta quanto ao dinheiro do tributo foi habilmente projetada para torná-Lo um transgressor de uma forma ou de outra – seja contra os sentimentos nacionais do judeu ou do romano. Sua resposta, no entanto, os reduziu a impotência. Ele os fez admitir sua servidão a César por um apelo à cunhagem da moeda. Seus lábios, não os d’Ele, pronunciaram que era a imagem de César. Então Ele não apenas deu a resposta à sua pergunta que era perfeitamente óbvia à luz do que haviam acabado de reconhecer, mas também a usou como uma introdução à questão muito mais importante quanto às reivindicações de Deus sobre eles. Não é de admirar eles se maravilharam com Ele.
Podemos notar como, no versículo 14, esses oponentes prestaram homenagem à Sua perfeita verdade. De um modo muito além de qualquer coisa que eles percebessem – no sentido mais absoluto – Ele era a verdade e ensinava a verdade, totalmente impossível de ser desviado pelo homem e por seu pequeno mundo. De nenhum outro servo de Deus isso poderia ser dito. Até mesmo Paulo foi influenciado por considerações humanas, como mostra Atos 21:20-26. Somente Jesus é o perfeito Servo de Deus, e Ele era tão pobre que teve que pedir que uma “moeda” fosse trazida a Ele.
Em seguida vieram os saduceus, pedindo-Lhe para resolver o emaranhado matrimonial que Lhe propuseram. Ele fez isso e os convenceu de sua loucura; mas antes de fazer isso, Ele revelou a razão da sua loucura. Eles não conheciam as Escrituras – isso era ignorância. Eles não conheciam o poder de Deus – isso era incredulidade. Seu erro incrédulo se firmava nesses pilares gêmeos. A incredulidade moderna do tipo saduceu se baseia exatamente nesses mesmos dois pilares. Eles continuamente citam erroneamente, interpretam erroneamente, ou, de outra forma, mutilam as Escrituras, e concebem a Deus como se Ele fosse qualquer coisa, exceto o Todo-Poderoso – como apenas um homem, apesar de possuir poderes maiores que nós mesmos.
O Senhor provou a ressurreição dos mortos citando o Velho Testamento. O fato disso está implícito em Êxodo 3:6. Deus ainda era o Deus de Abraão, Isaque e Jacó centenas de anos após a morte deles. Embora mortos para os homens, eles viviam para Ele, e isso significava que eles deveriam ressuscitar novamente. Esse fato estava na Escritura e, ao negá-lo, os saduceus só se declararam ignorantes.
Como o fato estava presente nas Escrituras, o Senhor, fiel ao Seu caráter de Servo, apelou para a Escritura e não afirmou o fato por Sua própria autoridade. O que Ele afirmou autoritariamente está no versículo 25, onde Ele torna claro o estado ou condição ao qual a ressurreição nos introduzirá, indo além do que o Velho Testamento ensinou. O mundo da ressurreição difere deste mundo. Relacionamentos terrestres cessam nessas condições celestes. Não seremos anjos, mas devemos ser “como os anjos que estão no céu”. Imortalidade e incorruptibilidade serão nossas.
O fato claro era, portanto, que os saduceus tinham invocado uma dificuldade em sua ignorância que não existia de fato. A derrota deles foi completa.
Um dos escribas que estava ouvindo percebeu isso, e ele se aventurou a propor uma questão que eles muitas vezes debatiam entre si, sobre a importância relativa dos vários mandamentos. A resposta do Senhor afastou todos os seus elaborados argumentos e minúcias quanto a um ou outro dos dez mandamentos, indo diretamente à palavra contida em Deuteronômio 6:4-5. Aqui havia um mandamento que trazia sob seu alcance todos os outros mandamentos. Deus exigiu que Ele fosse absolutamente supremo nas afeições de Suas criaturas; se fosse exatamente assim, todas as outras coisas se encaixariam no lugar certo. Aqui está o grande mandamento-mestre que governa tudo.
Neste mandamento havia um elemento de grande encorajamento. Por que Deus deveria Se importar em possuir o amor indiviso de Sua criatura? A fé responderia a essa pergunta dizendo – porque Ele mesmo é amor. Sendo amor e amando a Sua criatura, embora perdida em seus pecados, Ele não pode ficar satisfeito sem o amor de Sua criatura. Israel não poderia olhar “firmemente para o fim” da lei. Se eles tivessem sido capazes de fazê-lo, é isso que eles teriam visto.
Quanto ao segundo mandamento, o Senhor dirigiu o homem para Levítico 19:18 – outra passagem inesperada. Mas este mandamento evidentemente decorre do primeiro. Ninguém pode ter habilidade e desejo para tratar seu próximo corretamente, a menos que primeiro seja correto em suas relações com seu Deus. Mas o amor é a essência deste segundo mandamento, não menos do que o primeiro. Amar o próximo como a si mesmo é o limite sob a lei. Somente sob a graça é possível dar um passo além desse, como, por exemplo, fizeram Áquila e Priscila, como registrado em Romanos 16:4. No entanto, “o amor é o cumprimento da lei” (Rm 13:10 – AIBB), e isso é dito em conexão com este segundo mandamento.
O escriba sentiu a força dessa resposta, como mostram os versículos 32 e 33. A série de perguntas começou com a confissão: “Mestre, sabemos que ... com verdade ensinas o caminho de Deus” (v. 14). Isso foi dito pelos fariseus e herodianos no espírito de hipocrisia. Terminou com o escriba dizendo com toda a sinceridade, “Correto, Mestre, Tu falaste de acordo com a verdade” (v. 32 – JND). O homem viu que o amor que levaria ao cumprimento destes dois grandes mandamentos é de muito mais importância do que oferecer todos os sacrifícios que a lei impunha. Os sacrifícios tiveram seu lugar, mas eles eram apenas um meio para um fim. O amor é “o fim do mandamento”, como 1 Timóteo 1:5 nos diz. O fim é maior do que os meios. Assim, o escriba aprovou a resposta que tinha sido dado a ele.
A resposta do Senhor no versículo 34 é muito impressionante. Ele declarou àquele homem: “não estás longe do reino de Deus”. Isso mostrou duas coisas. Primeiro, que qualquer um que se afaste do que é exterior e cerimonial, para perceber a importância do que é interior e vital diante de Deus, não está longe da bênção. Em segundo lugar, por mais importante que seja tal percepção, ela não é, em si mesma, suficiente para entrar no reino. Alguma coisa, além disso, é necessária, e é o próprio espírito de uma criança, como vimos ao considerar Marcos 10. O escriba estava próximo do reino, mas ainda não estava nele. Esta resposta, pensamos, desconcertou o homem, assim como os outros ouvintes, e por causa disso ninguém ousava fazer mais perguntas. Tal homem como este, bem versado na lei de Deus, eles achavam que estivesse no reino como uma coisa natural. As palavras do Senhor desafiaram seus pensamentos. No entanto, ao perceber que Deus visa e valoriza aquilo que é moral e espiritual mais do que é cerimonial e carnal, ele percorreu um longo caminho rumo ao reino. Romanos 14:17 reforça a mesma coisa em relação a nós mesmos, pelo menos em princípio. Reconhecemos isso totalmente?
Tendo Seus oponentes terminado com suas perguntas, o Senhor propôs a eles Sua grande questão, surgida do Salmo 110. Os escribas estavam bem claros de que o Messias seria o Filho de Davi; todavia aqui está Davi falando d’Ele como seu Senhor. Entre os homens naqueles dias, um pai nunca se dirigiu a seu filho em tais termos, mas o contrário: o filho chamava seu pai, senhor. Como poderia o Cristo ser então filho de Davi? Os escribas estavam errados no que afirmavam? Ou eles poderiam explicar isso?
Eles não conseguiam explicar. Eles ficaram em silêncio. A explicação foi extremamente simples. Mas face a face com o Cristo, e não querendo admitir Suas afirmações, eles fecharam os olhos intencionalmente a ela. Ele era o Filho de Davi, e Davi O chamou de Senhor pelo Espírito Santo, de modo que não houve erro algum. A explicação é que era o Filho de Deus que Se tornou o Filho de Davi segundo a carne, como é claramente afirmado em Romanos 1:3. Quando a Deidade do Cristo é plenamente reconhecida, tudo é claro. Esses versículos lançam uma boa dose de luz sobre a declaração em 1 Coríntios 12:3: “Ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo”.
O Senhor tinha agora respondido a todas as perguntas de seus adversários, e fez uma pergunta que eles não puderam responder. Se eles tivessem sido capazes de responder, eles teriam sido colocados na posse da chave para toda a situação. A multidão do povo ainda estava feliz em ouvi-Lo, mas os escribas eram cegos, e nos versículos 38-40 o Senhor adverte o povo contra eles. Aqueles que estavam sendo cegamente levados são advertidos contra seus líderes cegos. Os verdadeiros motivos e objetivos dos escribas são desmascarados. A Palavra de Deus dos Seus lábios penetra entre a alma e o espírito de um modo infalível.
Seu pecado característico era o egoísmo nas coisas de Deus. Seja no mercado – o centro de negócios, na sinagoga – o centro religioso, ou nas festas – o círculo social, eles devem ter o lugar de comando, e para esse fim eles usavam suas roupas de distinção. Tendo ganhado a posição de liderança, usavam-na para emplumar seus próprios ninhos financeiramente às custas das viúvas, a classe mais indefesa da comunidade. A conquista de poder e dinheiro foi o fim e objetivo de sua religião. Eles seguiram “o caminho de Balaão, filho de Bosor, que amou o prêmio da injustiça” (2 Pe 2:15), e há muitos em nossos dias que ainda trilham o caminho do mal, cujo fim é “mais grave condenação”, ou “juízo muito mais severo” (ARA). O advérbio “mais”, observe, não é  quanto à diferença na duração da punição, embora haja diferença quanto à sua severidade.
Os adversários provocaram essa discussão com suas perguntas, mas a última palavra foi a do Senhor. As palavras finais de Seus lábios devem ter caído com a força de uma marreta. Ele serenamente tomou para Si o ofício de Juiz de toda a Terra e pronunciou a condenação deles. Se Ele não fosse o Filho de Deus, isso haveria sido a pior loucura.
Mas o mesmo Filho de Deus assentou-Se defronte da arca do tesouro e viu as ofertas da multidão, e eis! Ele pode com igual exatidão estimar o valor de suas ofertas. Uma pobre viúva se aproxima – possivelmente alguém que sofreu com a fraude de vorazes escribas – e lança todo o seu pouco. Duas das menores moedas foram deixadas para ela, e ela depositou as duas adentro. De acordo com os pensamentos humanos, sua oferta era absurdo e desprezível pela sua pequenez, sua presença não seria notada, e sua ausência não seria sentida. Na avaliação divina, era mais valiosa do que todas as outras ofertas juntas. A contabilidade de Deus nessa questão não é como a nossa.
Para Deus, o motivo é tudo. Ali estava uma mulher que, em vez de culpar a Deus por causa das transgressões dos escribas, que afirmavam representá-Lo, devotava tudo o que tinha a serviço de Deus. Isso deleitou o coração de nosso Senhor.
Ele chamou Seus discípulos para Si, como o versículo 43 nos diz, e chamou a atenção para a mulher, proclamando a virtude de seu ato. Isso é particularmente impressionante se notarmos como Marcos 13 se inicia, pois Seus discípulos estavam ansiosos para mostrar a Ele a grandeza e a beleza dos edifícios do templo. Eles chamaram a atenção para pedras de grande valor feitas pelas atarefadas mãos dos homens. Ele chamou a atenção para a beleza moral do ato de uma pobre viúva. Ele disse a eles que seus grandes edifícios seriam destruídos. É o ato da viúva que será lembrado na eternidade.
E, no entanto, a viúva deu suas duas moedas para a arca do templo, que recebia contribuições para a manutenção da estrutura do templo! O Senhor já havia voltado Suas costas para o templo e agora estava pronunciando sua condenação. Ela não sabia disso; mas apesar de estar um pouco atrasada no tempo em sua inteligência, sua oferta foi aceita e valorizada de acordo com o coração devotado que a estimulou. Que conforto é esse fato!

Deus estava diante dela quando da sua oferta e Deus permanece mesmo quando os templos são destruídos. As coisas materiais – sobre as quais podemos colocar nossos corações – desaparecem, mas Deus permanece.

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