domingo, 8 de setembro de 2019

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quarta-feira, 17 de julho de 2019

MARCOS 16

MARCOS 16

O amor e a fé estavam claramente ali, mas até agora a fé deles era vagarosa e pouco inteligente quanto à Sua ressurreição. Até mesmo as mulheres devotadas estavam cheias de pensamentos quanto ao embalsamamento de Seu corpo, como mostram os versículos iniciais deste capítulo. Mas essa vagarosidade deles apenas aumenta a clareza das provas que, por fim, os sobrepujaram com a convicção de Sua ressurreição. Ao nascer do Sol, no primeiro dia da semana, estavam no sepulcro, apenas para descobrir que a grande pedra, que bloqueava a entrada, havia sido rolada dali. Eles entraram para encontrar não um corpo sagrado, mas um anjo, da aparência de um jovem.
Mateus e Marcos falam de um anjo: Lucas e João falam de dois. Isso não apresenta nenhuma dificuldade, pois os anjos aparecem e desaparecem à vontade. O anjo, que apareceu como “um jovem ... vestido de uma roupa comprida, branca” para as mulheres temerosas, havia aparecido um pouco antes para os guardas como alguém com um aspecto de “um relâmpago, e o seu vestido branco como neve”, de modo que uma espécie de paralisia caiu sobre eles. Ele foi uma coisa para o mundo e outra bem diferente para os discípulos. Ele sabia como discriminar, e que essas mulheres estavam procurando por Jesus, embora pensassem que Ele ainda estivesse na morte. Eram ignorantes, contudo elas O amavam; e isso fez toda a diferença.
O testemunho angélico, porém, não operou muito no momento. Isso impressionou as mulheres, mas principalmente na forma de medo, tremor e assombro. Não produziu aquela calma certeza de fé que abre a boca em testemunho aos outros. Elas ainda não podiam entender as palavras: “Cri, por isso falei” (Sl 116:10; 2 Co 4:13). Em breve eles compartilhariam esse “espírito de fé”, que era possuído tanto por Paulo como pelo salmista, mas isso seria quando eles entrassem em contato, por si mesmos, com o Cristo ressuscitado.
As escrituras indicam claramente que os anjos têm um ministério para realizar a favor dos santos – como testemunho (Hb 1:14). Seu ministério aos santos é pouco frequente e, geralmente, alarmante para aqueles que o recebe, como foi o caso aqui. No entanto, a mensagem deles era bem definida. “(Ele) não está aqui”, foi a parte negativa, e que as mulheres puderam verificar por si mesmas. A palavra positiva foi: “Ele ressuscitou” (ARA). Isso elas não puderam verificar, por enquanto, e, portanto, não parecem tê-las impressionado profundamente.
Segue-se, nos versículos 9-14, um breve resumo das três impressionantes aparições do Senhor ressuscitado; relatos que nos são mais detalhados nos outros evangelhos.
Primeiro vem o de Maria Madalena, que nos é dado tão plenamente no evangelho de João. Ela foi a primeira a realmente ver o Senhor em ressurreição: Marcos coloca esse fato além de qualquer dúvida. Isso é significativo, pois mostra que o Senhor pensava em primeiro lugar naquele cujo coração fosse talvez mais devastado pela Sua perda do que por qualquer outro. Em outras palavras, o amor teve a primeira reivindicação em Sua atenção. Como resultado, ela realmente acreditava e, portanto, era capaz de falar na forma de testemunho aos outros. Mas, mesmo assim, suas palavras não tiveram efeito apreciável. Os outros realmente amavam o Senhor, pois lamentaram e choraram, e a própria profundidade de sua dor mostrou evidência de seu amor pelo Senhor embora ainda não O tivessem visto.
Em segundo lugar, vem a Sua Aparição para os dois que iam de caminho para o campo, que nos é dado em Lucas com tantos detalhes. Estes não haviam negado a Ele como Pedro fez, mas tinham perdido tanta afeição que se afastavam de Jerusalém sem rumo certo, como se agora desejassem dar as costas a um lugar para eles cheio de esperanças frustradas e a mais trágica perda e desapontamento. Sua visão do Cristo ressuscitado reverteu seus passos e os trouxe de volta a seus irmãos com as boas-novas. Mesmo isso, no entanto, não superou o seu desprezo incrédulo. Aconteceu assim como acontece conosco. Ressurreição nos leva para fora da atual ordem das coisas, e Sua ressurreição é um fato de tão imensa importância que deve, de fato, ser estabelecido por múltiplas evidências incontestáveis.
Terceiro, Sua aparição aos onze. Talvez essa não seja uma das ocasiões que nos são apresentadas com mais detalhes em Lucas e João, pois diz: “estando eles reclinados à mesa” (AIBB). Tome o relato em Lucas, por exemplo – Ele dificilmente teria perguntado: “Tendes aqui alguma coisa que comer?” se eles estivessem se reclinando à refeição. A presença de comida teria sido óbvia demais. Pode, portanto, esta ter sido uma ocasião não relatada nos outros evangelhos. Nesta ocasião Ele manifestou a incredulidade deles como uma questão de reprovação, e ainda assim, Ele lhes deu uma comissão.
É notável como as comissões registradas nos quatro evangelhos diferem uma da outra. Aquilo que é afirmado em Atos 1:3, nos prepararia para isso. Muitas vezes durante os quarenta dias Ele apareceu para eles, falando de coisas relacionadas ao reino de Deus. Durante esse tempo, Ele evidentemente apresentou a eles sua comissão sob diferentes pontos de vista, e Marcos nos dá um deles. Podemos muito bem nos admirar que, tendo sido forçado a censurá-los por sua incredulidade, Ele iria enviá-los para pregar o evangelho para que os outros creiam. No entanto, aquele que pela dureza de coração tem sido teimoso na incredulidade é, quando completamente conquistado, uma testemunha valiosa para os outros.
O escopo desta comissão do evangelho é o maior possível. É “todo o mundo” e não apenas a pequena terra de Israel. Além disso, deve ser pregado a “toda criatura”, e não apenas ao judeu. É, em outras palavras, para todos em todos os lugares. A bênção que o evangelho transmite é de natureza espiritual, pois traz salvação, quando a fé está presente e o batismo é submetido. Não devemos transpor as palavras, batizado e salvo, e escrever: “Quem crer e for salvo, será batizado”.
Em nenhuma escritura o batismo está ligado à justificação ou à reconciliação, mas há outras escrituras que conectam o batismo com a salvação. Isto é porque salvação é uma palavra de grande abrangência, e inclui dentro de seu escopo a libertação prática do crente de todo o sistema mundial, seja do caráter judaico ou gentio, em que uma vez ele estava conectado. Suas ligações com esse sistema mundial devem ser cortadas, e o batismo estabelece o corte desses elos – em uma palavra, a dissociação. Aquele que crê no evangelho e aceita o corte de suas ligações com o mundo que o prendeu, é um homem salvo. Um homem pode dizer que ele crê, e até mesmo o faz na realidade, mas se ele não se submeter ao corte dos velhos elos, ele não pode ser considerado salvo. O Senhor conhece os que são Seus, claro, mas isso é outro assunto.
Quando se trata de “condenação”, o batismo não é mencionado. Isso é muito significativo. Mostra o terreno sobre o qual repousa a condenação. Mesmo que um homem seja batizado, se ele não crer, será condenado. A ordenança externa é claramente prescrita pelo Senhor, mas só pode ser administrada se fé é professada; e a profissão, como sabemos muito bem, não é sinônimo de posse. A salvação não é eficaz à parte de fé. 
Uma boa dose de controvérsia se espalhou em torno dos versículos 17 e 18. As coisas milagrosas mencionadas estão relacionadas por alguns com os pregadores do evangelho, e afirma-se que elas devem estar em plena manifestação hoje. Duas ou três coisas podem ser úteis.
Em primeiro lugar, as coisas devem seguir não os que pregam, mas os que creem.
Em segundo lugar, o Senhor afirma que esses sinais se seguirão, independentemente de quaisquer condições anteriores por parte do pregador. Não há estipulação de que ele deva experimentar um “batismo do Espírito” especial, como é frequentemente instigado. Se os homens crerem, estes sinais seguirão; assim diz o Senhor. Tudo o que poderia ser deduzido de sua ausência seria que ninguém realmente creu.
Em terceiro lugar, certas palavras não aparecem na declaração, e que alguns parecem ler mentalmente. Ela não diz que estes sinais vão seguir todos que creem, em todos os lugares, e todo o tempo. Se dissessem assim, deveríamos chegar à conclusão de que até hoje quase ninguém creu no evangelho; nem nós mesmos cremos nele!
Estas palavras do nosso Senhor, é claro, foram cumpridas. Podemos apontar quatro coisas das cinco ocorrências, conforme registrado no livro de Atos. A quinta coisa, beber sem dano de alguma coisa mortífera, não temos registro disso, mas não temos sombra de dúvida de que isso aconteceu. Ele disse que aconteceria e acreditamos n’Ele. Sua palavra é suficiente para nós. Ele dá os sinais de acordo com o Seu próprio prazer e quando vê que sejam necessários.
Os dois versículos que encerram o nosso evangelho são extremamente formosos. Lembramos que ele colocou diante de nós nosso Senhor como o grande Profeta, que nos trouxe a completa Palavra de Deus, o Servo perfeito, que realizou plenamente Sua vontade. Tudo foi relatado com notável brevidade, como se torna tal apresentação de Si mesmo. E agora, no final, com a mesma brevidade, o fim da maravilhosa história está diante de nós. Tendo o Senhor comunicado aos Seus discípulos tudo o que desejava: “foi recebido no céu e assentou-Se à direita de Deus”.
Da Terra Ele foi expulso, mas é recebido no céu. Suas obras na Terra foram recusadas, mas agora Ele toma Seu assento em uma posição que indica administração e poder de um tipo irresistível. Mas é colocado que Ele foi “recebido”, e assim o que é enfatizado é que tanto a Sua recepção como a Sua sessão de administração são devidas a um ato de Deus. O Servo perfeito pode ter sido recusado aqui, mas pelo ato de Deus, Ele toma o lugar do poder, onde nada impedirá Sua mão de realizar a vontade do Senhor.
O último versículo indica a direção em que Sua mão está se movendo durante o tempo presente. Ele ainda não está tratando com a Terra rebelde no governo justo: isso Ele fará quando a hora chegar, de acordo com o propósito de Deus. Hoje, Seus interesses estão centrados na propagação do evangelho, como Ele acabara de indicar. Seus discípulos saíram pregando sem fronteiras ou limitações, mas o poder que deu eficácia às palavras e trabalhos deles era Seu, e não deles. De Seu elevado assento no alto, Ele trabalhou com eles e deu os sinais que Ele prometeu, conforme registrado nos versículos 17 e 18. Ele deu estes sinais para confirmar a palavra, e essa confirmação foi especialmente necessária no início de sua proclamação.
Embora os sinais dos versículos 17 e 18 sejam raramente vistos hoje, os sinais ainda seguem a pregação, sinais na esfera moral e espiritual – personalidades e vidas são completamente transformadas. O Servo perfeito, à destra de Deus, ainda está trabalhando.

MARCOS 15

MARCOS 15

O primeiro versículo deste capítulo retoma o assunto do capítulo 14:65. Os romanos haviam tirado dos judeus o poder de decidir sobre a pena de morte e ela foi investida inteiramente no representante de César, por isso os líderes religiosos sabiam que deveriam apresentá-Lo diante de Pilatos e exigir dele a sentença de morte baseada em algo que lhe parecesse adequado. O versículo 3 nos diz que eles “O acusavam de muitas coisas”, mas não nos é dito por Marcos que coisas eram essas. Ficamos impressionados, no entanto, pela forma como uma frase ocorre repetidas vezes na primeira parte do capítulo – “O Rei dos Judeus” (vs. 2, 9, 12, 18, 26). Lucas nos diz definitivamente que eles disseram que Ele estava “proibindo dar o tributo a César, e dizendo que Ele mesmo é Cristo, o Rei” (Lc 23:2). Deduzimos isso do breve relato de Marcos, embora ele não o afirme.
Mais uma vez, diante de Pilatos, o Senhor confessou Quem Ele era. Desafiado ser o rei dos judeus, ele simplesmente respondeu: “Tu o dizes”, o equivalente a “sim”. Quanto ao resto, Ele novamente não respondeu nada, porque em todas as ferozes acusações dos principais sacerdotes não havia nada a se responder. É digno de nota que Marcos registra apenas duas declarações de nosso Senhor perante Seus juízes. Diante da hierarquia judaica, Ele confessou ser o Cristo, o Filho de Deus e o Filho do Homem: perante o governador romano, Ele confessou ser o Rei dos judeus. Nenhuma testemunha prevaleceu contra Ele; Ele foi condenado por causa de Quem Ele era e não podia negar a Si mesmo.
Além disso, Pilatos tinha conhecimento suficiente para discernir o que era a raiz de todas as acusações, “ele bem sabia que por inveja os principais dos sacerdotes O tinham entregado”. Isto levou à sua tentativa ineficaz de desviar para Jesus os pensamentos da multidão, quando se tratava da questão do prisioneiro a ser libertado. A influência dos sacerdotes com o povo era demais para ele e, portanto, desejoso de agradar a multidão, Pilatos violou o senso de justiça que tinha. Ele libertou o rebelde e homicida Barrabás, e açoitando Jesus, entregou-O para ser crucificado.
A voz do povo prevaleceu sobre o melhor julgamento do representante de César: em outras palavras, a autocracia abdicou em favor da democracia e o voto popular a determinou. Um antigo provérbio latino afirma que a voz do povo é a voz de Deus. Os fatos da crucificação negam categoricamente esse provérbio. Aqui a voz do povo era a voz do diabo.
Os versículos 16-32 nos dão, de maneira muito detalhada, as terríveis circunstâncias que cercam a crucificação. Todas as classes combinadas contra o Senhor. Pilatos já O havia açoitado. Os soldados romanos escarneciam d’Ele de formas cruéis e desdenhosas. As pessoas comuns – os que passavam – protestavam contra Ele. Os sacerdotes zombavam d’Ele com sarcasmo. Os dois ladrões crucificados – representantes das classes criminosas, a própria escória da humanidade – insultaram-No. Nobres e símplices, judeus e gentios, estavam todos envolvidos. No entanto, em consequência, todos estavam ajudando a cumprir as Escrituras, embora, sem dúvida, inconscientemente em si mesmos.
Isto é particularmente notável se tomarmos o caso dos soldados romanos – homens que desconheciam a existência das Escrituras. O versículo 28 toma nota de que a crucificação dos ladrões de ambos os lados era um cumprimento de Isaías 53:12, mas muitas outras coisas que eles fizeram também cumpriram a Palavra. Por exemplo, Seu semblante deveria estar “tão desfigurado, mais do que o de outro qualquer” conforme Isaías 52:14, e havia um cumprimento disso na coroa de espinhos e nos ferimentos. O Juiz de Israel deveria ser ferido “com a vara na face”, de acordo com Miquéias 5:1 – ACR; isso os soldados fizeram, como mostra o versículo 19 de nosso capítulo. O versículo 24 registra o cumprimento por eles do Salmo 22:18. “deram-Me fel ... e ... vinagre” diz o Salmo 69:21, e isto também os soldados fizeram, embora o cumprimento não esteja registrado aqui, mas em Mateus. Achamos que estamos corretos em dizer que pelo menos 24 profecias foram cumpridas no dia de 24 horas em que Jesus morreu.
Todos os homens nessa hora estavam se exibindo em sua tonalidade mais tenebrosa, e nestes versículos não lemos de nada que Ele tenha dito. Foi exatamente como o profeta disse: “como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, Ele não abriu a Sua boca”. Era a hora do homem e o poder das trevas estava no auge. A perfeição do santo Servo do Senhor é vista em Seu sofrimento em silêncio em tudo aquilo que Ele suportou das mãos dos homens.
Aquilo que o Senhor Jesus sofreu nas mãos dos homens foi muito grande, mas cai em comparativa insignificância quando nos voltamos para considerar o que Ele suportou nas mãos de Deus como a Vítima, quando foi feito pecado por nós. No entanto, todo esse assunto muito maior é comprimido por Marcos em dois versículos – 33 e 34; enquanto seu relato do assunto menor abrange 52 versículos (Mc 14:53-15:32). Evidentemente o fato é que o assunto menor poderia ser descrito, enquanto que o maior não poderia ser. As trevas que desceram ao meio-dia esconderam dos olhos dos homens até aquilo que era externo àquela cena.
Tudo o que pode ser relacionado historicamente é que por três horas Deus colocou o silêncio da noite sobre a Terra e assim cegou os olhos dos homens, e que no final das horas Jesus proferiu o brado de angústia, que havia sido escrito como profecia mil anos antes, no Salmo 22:1. O santo Emissário do pecado foi abandonado, pois Deus deve julgar o pecado e bani-lo irrevogavelmente da Sua presença. Esse banimento total e eterno nós merecíamos, e que vai cair sobre todos os que morrem em seus pecados. Ele suportou isso por completo, mas como Ele possuía a santidade, a eternidade, a infinidade da Deidade plena, Ele poderia emergir dela no final das três horas. No entanto, o brado que veio de Seus lábios como Ele o fez, mostrou que Ele sentiu o total horror disso. E Ele tinha a capacidade de sentir que isso era infinito.
Aquilo que Ele sofreu nas mãos dos homens não deve ser considerado levianamente. Hebreus 12:2 diz: “O Qual ... suportou a cruz, desprezando a afronta [vergonha – JND], mas devemos notar a diferença entre a vergonha e o sofrimento. Muitos homens de grande coragem física sentiriam mais vergonha do que sofrimento. Ele sentiu o sofrimento, mas desprezou a vergonha, na medida em que estava infinitamente acima dela, e sabia que Ele era “glorificado perante o Senhor” (Isaías 49:5 – ARA). Cremos que podemos dizer que Ele nunca foi mais glorioso aos olhos do Senhor do que quando estava sofrendo sob o julgamento de Deus como o Emissário do pecado. Tal era o paradoxo[1] da santidade e amor divinos!
O efeito desse clamor sobre os espectadores nos é dado nos versículos 35 e 36. Eles dificilmente teriam visto uma referência a Elias em Suas palavras se não fossem judeus: mas, então, quão absurdo e ignorante não ter reconhecido o clamor a Deus que estava entesourado em suas próprias Escrituras.
A realidade do fato de Sua morte é dada por Marcos da maneira mais breve possível. Ele expirou Seu espírito nas mãos de Deus, logo após ter clamado em alta voz. O que Ele disse está registrado em Lucas e João. Aqui nos é dito simplesmente o modo como Ele disse isto. Não houve gradual diminuição de força, de modo que Suas últimas palavras fossem um débil sussurro. Em um momento uma grande voz e no momento seguinte Ele estava morto! Sua morte foi tão manifestamente sobrenatural que impressionou grandemente o centurião que estava de plantão e vigiando. O que quer que tenha sido o significado exato de Suas palavras na mente do centurião, ele deve ter pelo menos sentido que era uma testemunha de algo sobrenatural. Endossamos suas palavras e dizemos: “Verdadeiramente este Homem era o Filho de Deus”, no mais pleno sentido.
A verdade dessas palavras também foi testemunhada pelo véu do templo sendo rasgado. Este grande acontecimento parece ter ocorrido sincronizado com a Sua morte. Foi a mão divina que o rasgou, pois qualquer mão humana teria que rasgá-lo de baixo para cima. O elaborado sistema típico instituído em Israel, em conexão com os sacrifícios e o templo, todos aguardavam a morte de Cristo; e, sendo a morte consumada, a mão divina rasgou o véu como um sinal de que o dia da figura havia terminado, e o caminho para o Santo dos santos tornou-se manifesto.
Em todas as emergências, Deus tem em reserva algum servo que se manifestará e cumprirá Sua vontade. Pedras iriam clamar, ou seriam levantadas para se tornar homens se Deus precisasse deles em caso de emergência; mas isso nunca acontece pois Deus nunca está em emergência como essa. Ele sempre tem um homem na reserva e José era o homem nessa ocasião. Este tímido e secreto discípulo foi subitamente cheio de coragem e enfrentou Pilatos com ousadia. Ele era o homem nascido no mundo para cumprir, no momento oportuno, a palavra profética de Isaías 53:9 – “com o rico na Sua morte”. Tendo cumprido isso, ele sai completamente do relato.
Ele perdeu a oportunidade de ser identificado com Cristo em Sua vida, mas se identificou com Ele quando estava morto. Isso é notável, pois exatamente inverteu o procedimento dos discípulos. Eles se identificaram com Ele durante Sua vida e falharam miseravelmente quando Ele morreu. A aparente derrota de Jesus teve o efeito de encorajar José. Agitou as brasas fumegantes de sua fé em um repentino incêndio. Ele “esperava o reino de Deus”, e podemos ter certeza de que no dia do reino a fé e as obras de José não serão esquecidas por Deus. O tipo de sua fé é exatamente o que precisamos hoje – o tipo que desperta quando a derrota parece certa.
Consequentemente a ação de José teve o efeito de trazer diante de Pilatos o caráter sobrenatural da morte de Cristo. Nenhum homem poderia tirar Sua vida; Ele a entregou por Si mesmo, e no momento adequado, quando tudo foi cumprido. Os dois ladrões, como sabemos, permaneceram por horas após, e a morte deles teve que ser acelerada por meios cruéis. Pilatos ficou maravilhado, mas sendo o fato confirmado, ele concedeu o pedido. Assim, a vontade de Deus foi feita, e a partir daquele momento o corpo santo estava fora das mãos dos incrédulos. Mãos de amor e fé realizaram os serviços e O colocaram no sepulcro. As mulheres devotadas também foram testemunhas quando até mesmo os discípulos desapareceram e viram onde Ele havia sido colocado.



[1]  N. do T.: Pensamento ou argumento que contraria os princípios do pensamento humano.  É o oposto do que alguém pensa ser a verdade.

MARCOS 14

MARCOS 14

À medida que abrimos este capítulo, voltamos aos detalhes históricos e alcançamos os momentos finais da vida de nosso Senhor. Os versículos 1 a 11 nos fornecem uma introdução muito marcante às últimas cenas. Nos versículos 1 e 2, o ódio astuto se eleva ao seu clímax. Nos versículos 10 e 11, a exposição suprema da cruel traição é brevemente registrada. Os versículos entre esses, contam uma história de amor devotado por parte de uma mulher sem destaque – a beleza do relato é reforçada por estar essa história entre o registro de um ódio tal e uma traição tal.
O ódio dos principais sacerdotes e escribas era igualado por sua astúcia, assim eram apenas ferramentas nas mãos de Satanás. Eles disseram: “Não na festa”, ainda assim foi na festa: e novamente: “Para que não haja tumulto entre o povo” (ARA), ainda assim houve tumulto entre povo. Apenas que era em seu favor e contra o Cristo de Deus. Eles pouco sabiam o poder do diabo a quem eles se venderam.
A mulher de Betânia – Maria, como sabemos de João 12 – pode não ter entendido completamente a importância e o valor de seu ato. Ela foi movida provavelmente por instinto espiritual, percebendo o ódio homicida que estava cercando a Pessoa que ela amava. Ela trouxe seu unguento muito precioso e o derramou sobre Ele. Sua ação foi mal interpretada por “alguns” – Mateus nos diz que estes eram discípulos, e João acrescenta que Judas, o traidor, foi o criador da censura – que estava pensando no dinheiro e nos pobres, particularmente no primeiro. O Senhor a defendeu e isso foi o suficiente. Ele aceitou o ato dela e valorizou conforme o Seu entendimento de seu significado e não de acordo com a inteligência dela, mesmo que ela fosse, como supomos, a mais inteligente dentre os discípulos. Podemos ver nisso uma doce previsão da maneira graciosa em que Ele irá rever os atos de Seus santos no tribunal de Cristo.
Seu veredicto foi: “Ela fez o que pôde”, o que foi um grande elogio. Além disso, Ele ordenou que o ato dela fosse contado para sua memoria onde quer que o evangelho fosse pregado. Seu nome é conhecido e seu ato lembrado por milhões nos dezenove séculos seguintes – com toda a honra, assim como também Judas é conhecido pela desonra, e seu nome tornou-se sinônimo de baixeza e traição.
Esses versículos iniciais nos mostram que, à medida que o momento de crise se aproximava, todos, à luz, manifestavam o que realmente eram. O ódio e a traição dos adversários tornaram-se mais negros: o amor da verdade foi aceso, embora nenhum tenha expressado isso como Maria de Betânia. No versículo 12, porém, passamos à preparação para a última ceia, durante a qual o Senhor deu um testemunho muito mais impressionante da força de Seu amor pelos Seus. Houve algum testemunho do amor deles por Ele, mas não foi nada na presença de Seu amor por eles.
O Senhor Jesus não tinha lar próprio, mas Ele bem sabia como colocar Sua mão em tudo o que era necessário para o serviço de Deus. O dono do aposento era, sem dúvida, alguém que O conhecia e O reverenciava. Os discípulos conheciam a suficiência de seu Mestre. Eles não tentaram nada por sua própria iniciativa, mas simplesmente olharam para Ele procurando direção e agiram sobre ela. Por isso, aqu’Ele que não tinha onde reclinar a cabeça não tinha falta de acomodação adequada para o último encontro com os Seus.
Por muitos séculos a Páscoa foi celebrada, e aqueles que a comeram sabiam que ela comemorava a libertação de Israel do Egito; poucos, se é que algum, perceberam que ela aguardava a morte do Messias. Agora, pela última vez, ela deveria ser comida antes de ter seu cumprimento. Não sabemos o que encheu a mente dos discípulos, mas evidentemente a mente do Senhor estava centrada em Sua morte, e a ela Ele direcionou os pensamentos deles ao anunciar que Seu traidor estava entre eles, e que um “ai” repousou sobre ele. Então instituiu Sua própria ceia.
Brevidade caracteriza toda a narrativa de Marcos, mas em nenhum outro lugar é mais pronunciada do que em seu relato da instituição da ceia. O essencial, no entanto, está todo aqui: o pão e seu significado, o cálice e seu significado e aplicação, o que faz com que seja designado por Paulo “o cálice de bênção que abençoamos”. Para o próprio Senhor o fruto da videira, e o que simbolizava – o gozo terreno – era todo passado: não mais o tomaria até que no reino de Deus Ele o experimentasse de uma maneira inteiramente nova. Todas as esperanças e gozos terrenos sob a base antiga foram fechados para Ele.
A lição que temos que aprender está de acordo com esse fato. Deus pode, em Suas providências graciosas, permitir que desfrutemos na Terra muitas coisas felizes e agradáveis, mas todos os nossos apropriados gozos como Cristãos não são de uma ordem terrena, mas de uma celestial.
Do cenáculo, onde Ele havia instituído Sua ceia, o Senhor levou Seus discípulos ao Getsêmani. Um hino ou salmo foi cantado – Salmos 115-118 sendo a porção usual, é dito. Foi para os discípulos apenas o costumeiro, sem dúvida; mas o que deve ter sido para o Senhor cantar, enquanto Ele saia para cumprir a figura de Páscoa, tornando-Se o sacrifício? E o Salmo 118, no final, fala: “Ata a vítima [o sacrifício – JND] com cordas até os chifres [as pontas – ARA] do altar”. Ele foi ao sofrimento e morte, atado pelas cordas do Seu amor; e os discípulos ao fracasso, derrota e dispersão.
Ele os avisou sobre o que estava diante deles, citando a profecia de Zacarias, que anunciava o Pastor de Jeová ser ferido e a dispersão das ovelhas. Mas o profeta passou a dizer, “voltarei a Minha mão para os pequeninos” (Zc 13:7 – TB), e isso corresponde ao versículo 28 do nosso capítulo. Aqueles que eram Suas ovelhas nacionalmente foram espalhados, mas os “pequeninos”, em outra parte chamados por Zacarias de “os pobres do rebanho”, foram reunidos em uma nova base, quando o Pastor ressuscitou dos mortos. Por isso, Ele não os encontraria em Jerusalém, mas na Galileia.
Pedro, cheio de confiança própria, afirmou que não iria tropeçar, embora todos os outros pudesse fazê-lo, e isso diante da mais explícita declaração do Senhor, predizendo sua queda. Os outros não queriam ser superados por Pedro e, portanto, comprometeram-se com uma afirmação semelhante. O que transparecia nisso era a rivalidade profana que existia entre eles, de quem seria o maior. Marcos faz este manifesto com uma clareza especial, como pode ser visto se compararmos com Marcos 9:33-34; Marcos 10:35-37 e 41. Pedro sem dúvida sentiu que agora tinha chegado a oportunidade em que poderia demonstrar, de uma vez por todas, que ele estava muito acima do resto. E o resto não estava disposto a deixá-lo se destacar adiante; eles tiveram que acompanhá-lo. A queda de Pedro parecia vir muito de repente, mas tudo isso nos mostra que as raízes ocultas dela remontam a um longo caminho ao passado.
As palavras ousadas de Pedro logo seriam provadas, e em primeiro lugar no Getsêmani, que foi alcançado imediatamente depois. Foi solicitado a ele e seus dois companheiros que vigiassem apenas por uma hora. Isso eles não podiam fazer; embora somente para Pedro, que tinha sido particularmente orgulhoso, o Senhor dirigiu a Suas gentis palavras de protesto, usando seu antigo nome de Simão. Isso era apropriado, pois, naquele momento, ele não estava sendo fiel ao seu novo nome, mas exibia as características da velha natureza que ainda estava nele. O Mestre deles estava tomado de “pavor” e “angústia” e “profundamente triste até a morte”, e mesmo assim eles dormiram, não apenas uma vez, mas três vezes.
No entanto, contrastando com o fundo escuro do fracasso deles, a perfeição de seu Mestre apenas brilhou mais intensamente. A realidade de Sua Humanidade vem diante de nós de maneira muito admirável nos versículos 33 e 34, assim como a perfeição dela. Sendo Deus, Ele conheceu em plenitude infinita tudo o que estaria envolvido em morrer como o Emissário do pecado. Sendo perfeito Homem, Ele possuía toda a sensibilidade humana imaculada – a nossa sensibilidade foi debilitada pelo pecado, mas n’Ele não havia pecado. Por isso, sentiu tudo em infinita medida e desejou fervorosamente que a hora passasse d’Ele. E mais uma vez, tomando o lugar do Servo, Ele era perfeito em Sua devoção à vontade do Pai, e assim, embora desejando que o cálice pudesse ser tirado d’Ele, acrescentou: “não seja, porém, o que Eu quero, mas o que Tu queres”.
Podemos resumir tudo isso dizendo que, sendo Deus perfeito, Ele tinha infinita capacidade de conhecer e sentir tudo o que a aproximação da hora da morte significava para Ele. Como Homem perfeito, Ele entrou completamente na tristeza daquela hora e não pôde fazer outra coisa senão orar para que aquele cálice Lhe fosse tirado. Como Servo perfeito, Ele Se apresentou ao sacrifício em total sujeição à vontade de Seu Pai.
Três vezes nosso Senhor assim comungou com Seu Pai, e então Ele voltou para enfrentar o traidor com seu bando de homens pecadores. Podemos lembrar que três vezes Ele foi tentado por Satanás no deserto no início, e parece certo, embora não mencionado aqui, que o poder de Satanás também estava presente no Getsêmani, porque quando saía do cenáculo Ele disse: “se aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem em Mim” (Jo 14:30). Isso também ajuda a explicar a extraordinária sonolência dos discípulos. O poder das trevas era grande demais para eles, como sempre é para nós, exceto se formos ativamente apoiados pelo poder Divino. Notemos que o poder de Satanás não apenas desperta os crentes para atividades ilícitas. Por vezes, simplesmente coloca-os para dormir.
Ao dizer a Pedro: “O espírito, na verdade, está pronto [disposto – JND], o Senhor evidentemente admitia que havia em Seus discípulos aquilo que Ele podia apreciar e reconhecer. No entanto, “a carne é fraca”, e Satanás, naquele exato momento estava terrivelmente ativo, de modo que nada além de vigilância e oração teriam enfrentado a situação. Deixemos que a palavra entre profundamente em nós mesmos. À medida que o fim dos tempos se aproxima, as atividades de Satanás devem tornar-se maiores e não menores, e precisamos estar despertos com todas faculdades espirituais em alerta, e também sermos cheios do espírito de dependência em oração a Deus.
Versículos 42-52, ocupa-nos com a Sua prisão pela multidão enviada pelos chefes dos sacerdotes sob a liderança de Judas. Claramente eles não eram soldados romanos, mas servos do templo e das classes dominantes entre os judeus. Que história é essa! A multidão com sua violência, expressa em suas espadas e bastões: Judas com a mais vil traição, traindo o Senhor com um beijo: Pedro surgindo para a ação súbita e carnal: todos os discípulos O abandonando e fugindo: um jovem anônimo tentando seguir, mas terminando apenas em fuga com vergonha adicionada ao seu pânico – violência, traição, atividade falsa e equivocada, medo e vergonha. Mais uma vez dizemos: Que história! E tais somos nós quando confrontados com o poder das trevas e fora da comunhão com Deus.
Quanto a Pedro, esse era o terceiro passo em seu caminho descendente. Primeiro foi seu envolvimento na destrutiva competição pelo primeiro lugar entre os discípulos, que resultou em confiança e afirmação próprias. Em segundo lugar, a falta de vigilância e oração, que o levou a dormir quando deveria ter estado acordado. Em terceiro lugar, sua ira e violência carnais, seguidas por uma desprezível ação. O quarto passo, que trouxe as coisas ao clímax, temos no final do capítulo.
Quanto ao Senhor Jesus, tudo era tranquilidade em perfeita submissão à vontade de Deus, conforme expresso nas Escrituras proféticas. Sua luz brilhava como sempre sem o menor tremeluzir.

“Fiel em meio à infidelidade,
A única Luz em meio às trevas”

Os versículos 53-65 resumem para nós os procedimentos perante as autoridades religiosas judaicas. Todos foram reunidos para sentarem-se em juízo contra Ele, e isso, no que concerne a eles, não foi feito em um canto. Isso mostra de forma impressionante que profundidade de sentimento foi despertada. Um conselho lotado, e foi na calada da noite! O fogo queimava no pátio, e nos é permitido ver Pedro se rastejando entre os inimigos de seu Senhor por causa de um pouco de calor.
Não houve pensamento de um julgamento imparcial. Seus juízes estavam desavergonhadamente procurando testemunhas que lhes permitissem pronunciar sobre Ele a sentença de morte. No entanto, o poder de Deus estava em ação nos bastidores, e todas as tentativas de incriminá-Lo com as forjadas acusações não deram em nada. Muitos esforços foram feitos; uma amostra deles nos é dada no versículo 58 e reconhecemos uma distorção feita sobre Sua declaração que está registrada em João 2:19. Acusação após acusação era derramada pelos falsos acusadores que caíram em confusão e se  contrariaram uns aos outros. Parece que Deus envolveu suas mentes normalmente agudas em uma névoa de confusão.
Impulsionado pelo desespero, o sumo sacerdote levantou-se para examiná-Lo, mas à sua primeira pergunta, Jesus não respondeu nada – evidentemente pelo suficiente motivo de que ainda não havia nada a responder. Quando questionado se Ele era o Cristo, o Filho de Deus, Ele imediatamente respondeu, dizendo: “Eu o Sou”. Exatidão não faltava tanto na pergunta quanto na resposta. Ali estava o Cristo, o Filho de Deus, pela Sua própria clara confissão; e não apenas isso, mas Ele afirmou que, como Filho do Homem, Ele teria todo o poder em Suas mãos e que Ele viria novamente em glória do céu. Sob essa confissão Ele foi condenado à morte.
O profeta Miquéias havia previsto que o “Juiz de Israel” seria feito sujeito ao julgamento humano. Isso aconteceu: no entanto, é mais impressionante que, quando o grande Juiz foi levado ao julgamento humano, todas as tentativas de condená-Lo pelos depoimentos humanos falharam: todas as testemunhas humanas caíram em confusão. Eles O condenaram com base no testemunho Ele deu de Si mesmo; e, ao fazê-lo, eles mesmos violaram a lei. Estava escrito: “o sumo sacerdote entre seus irmãos ... não rasgará os seus vestidos” (Lv 21:10). Isto o sumo sacerdote ignorou; tão agitado que estava na presença de sua Vítima; tão tomado de raiva e ódio.
A tempestade de ódio explodiu contra o Senhor assim que descobriram um pretexto para condená-Lo; mas em suas bofetadas e cuspidas eles estavam cumprindo inconscientemente as Escrituras. O julgamento fictício diante do Sinédrio terminou em cenas de desordem, assim como a confusão havia sido estampada em seus procedimentos anteriores – a confusão tornava o mais evidente por Sua presença serena no meio deles. A única palavra que Ele proferiu, no relato de Marcos, é registrada no versículo 62.
Os versículos 66-72 nos dão num parêntese o clímax do fracasso de Pedro: já vimos os primeiros passos que o levaram a isso. Ele agora estava aquecendo-se na companhia daqueles que serviram os adversários de seu Senhor, e três vezes ele O negou. Satanás estava por trás da prova, como Lucas 22:31 nos mostra, e isso explica a maneira hábil com que as observações dos diferentes servos o levaram a um canto. O primeiro afirmou que ele estava “com” Jesus. O segundo que ele era “um deles” (ARA), significando evidentemente um dos Seus discípulos. O terceiro reafirmou isto, e alegou que ele tinha uma prova disso em sua forma de falar, e este aparentemente era parente de Malco, cuja orelha Pedro cortara, como João registra.
Quando Pedro viu a rede de evidências com suas finas malhas se misturando ao seu redor, suas negativas tornaram-se mais violentas: primeiro, uma pretensão que ele não sabia o se dizia; segundo, uma negação plana; terceiro, uma confissão de que ele nem conhecia o Senhor, acompanhada de maldições e juramentos. Eles não estavam dispostos a aceitar seus protestos de “infidelidade”, mas eles devem ter sido convencidos pelas tristes “obras” que ele produziu, de que para ele, Jesus era bastante desconhecido. Temos que contemplar a advertência com a qual Pedro nos fornece e olhar para ela vendo que temos que se expressa em obras apropriadas.

Mas se Satanás estava trabalhando com Pedro, assim também estava o Senhor, de acordo com Lucas 22:32. Ele havia orado por ele, e Sua ação trouxe de volta à mente febril de Pedro as próprias palavras de advertência que Ele havia proferido. A recordação delas feriu sua consciência e levou-o às lágrimas; e nesse trabalho em seu coração e consciência estava o começo de sua recuperação. Quando é permitido qualquer santo assim falhar, de maneira que seu pecado se torna público e um escândalo, podemos estar certos de que isso tem raízes ocultas que remontam ao passado. Podemos ter certeza também de que a jornada de volta à recuperação completa não é tomada de imediato.

terça-feira, 16 de julho de 2019

MARCOS 13

MARCOS 13

A predição do Senhor de que o Templo deveria ser totalmente destruído levou ao Seu discurso profético. Os discípulos não questionaram o cumprimento de Suas palavras, eles só queriam saber o tempo de seu cumprimento e, fiel aos seus instintos judaicos, qual seria o sinal disso. Sua resposta às suas perguntas é muito instrutiva.
Em primeiro lugar, Ele não fixou datas: qualquer resposta que Ele deu sobre tempo era de um tipo indireto. Em segundo lugar, Ele foi além da esfera imediata de suas perguntas, falando de assuntos maiores dos últimos dias e Seu próprio advento em glória. Esta característica é vista em muitas profecias do Velho Testamento, que foram dadas em vista de algum evento iminente da história, e que definitivamente se aplicava àquele evento, e ainda assim foram formuladas de modo a se aplicarem, com ainda maior plenitude, aos eventos que ocorrerão nos últimos dias. No caso diante de nós, houve um cumprimento na destruição causada por Roma no ano 70 d.C., que é apresentada mais claramente no discurso de Lucas sobre esse evento, mas ainda o seu cumprimento está conectado com a vinda do Senhor. Esta característica da profecia é aludida no ditado: “Nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação” (2 Pe 1:20).
Em terceiro lugar, Ele colocou todo o peso de Sua profecia sobre as consciências e corações de Seus ouvintes. Se a pergunta deles foi motivada por uma considerável dose de curiosidade, Ele elevou toda a questão a um plano muito mais elevado, com Suas palavras iniciais: “Olhai que ninguém vos engane”. O curso das coisas que a profecia revela contradiz tudo o que os homens naturalmente esperariam. A atratividade dos falsos profetas reside no fato de que eles sempre predizem coisas que se enquadram nos desejos dos homens e parecem eminentemente razoáveis. Devemos estar vigilantes, pois os falsos profetas são abundantes hoje nos púlpitos da Cristandade.
A primeira advertência, no versículo 6, diz respeito àqueles que se levantam dizendo ser o Cristo. O ponto central do conflito está sempre aqui. O diabo sabe que, se puder enganar os homens quanto a Cristo, poderá enganá-los em todo o resto. Se estivermos errados quanto ao centro, estaremos errados por toda a circunferência. Estar o nosso conhecimento enraizado no verdadeiro Cristo se torna prova para nós contra as seduções dos falsos.
Em seguida, somos avisados ​​para não esperar momentos fáceis com as condições do mundo. Guerras e tumultos entre as nações e distúrbios na natureza são esperados. Essas coisas não devem ser interpretadas como um indicativo do grande clímax, pois são apenas os espasmos preliminares. Além disso, os discípulos do Senhor devem esperar ser confrontados com dificuldades especiais. Eles serão submetidos à oposição e perseguição, e seus parentes mais próximos se tornarão contra eles, e o ódio dos homens no geral deve ser sua porção. Contra isso, contudo, o Senhor estabelece o fato de que essas circunstâncias adversas se tornarão em ocasiões de testemunho, e que eles teriam apoio e sabedoria especiais, quanto ao que haviam de dizer, vindas do Espírito Santo.
Alguns deduziram do versículo 10, lendo isto em conjunção com Mateus 24:14, que o Senhor não pode vir por Seus santos até que o evangelho tenha sido levado a todas as nações de hoje. Mas temos que ter em mente que os discípulos, a quem o Senhor estava Se dirigindo, eram naquele momento o remanescente temente a Deus em Israel, e ainda não tinham sido batizados em um só corpo, a Igreja: e também que o “evangelho” nesse versículo é um termo geral que cobriria não somente a mensagem que está sendo pregada hoje, mas também aquele “evangelho do reino” do qual fala Mateus, e que será levado adiante pelo remanescente temente a Deus, que será levantado depois que a Igreja for levada.
O versículo 14 nos dá o sinal pedido pelos discípulos. Daniel fala da “abominação que assola” (Dn 12:11 – TB), e isso é mencionado em nosso versículo, pois pela a palavra “assolamento”, nos é dito que “é uma palavra ativa”, tendo a força de “causar desolação”.
Deve haver o estabelecimento público de um ídolo no santuário em Jerusalém – tal como nos foi predito em Apocalipse 13:14-15 – um insulto a Deus do tipo mais flagrante. Esse sinal vai indicar duas coisas: primeiro, que o tempo da especial aflição, da qual Daniel 12:1 fala, começou, e: segundo, que o fim do século[1], e a intervenção de Cristo em Sua glória, estão muito próximos. O restante do discurso do Senhor está ocupado com essas duas coisas. Os versículos 15 a 23 tratam da primeira; versículos 24-27 tratam da segunda.
A linguagem do versículo 19 mostra que o Senhor tinha a grande tribulação em vista, e os versículos anteriores mostram que seu centro e fúria mais intensa se encontram na Judeia. Versículos 15 e 16 indicariam que ele irá começar com grande rapidez. O voo instantâneo será o único caminho de escape para aqueles que temem a Deus. Sua ferocidade será tal que, se fosse permitido transcorrer um longo curso, isso significaria extermínio. Por causa dos eleitos não irá ser permitida continuar, mas será interrompida pelo advento de Cristo.  Daniel 9:27 nos diz que a “tal aflição” começará, quando a cabeça do império romano reavivado fizer “cessar o sacrifício e a oferta de manjares”, no meio dos últimos sete anos. Sendo assim, haverá apenas três anos e meio para transcorrer antes que o Senhor Jesus ponha fim a isto por Sua gloriosa Aparição.
Pela tribulação o diabo vai buscar esmagar e exterminar os eleitos. Mas isso não é tudo, como mostram os versículos 21 e 22. Haverá nesse momento um número especial de falsos cristos e profetas aparecendo, por quem ele espera seduzir os eleitos. Ele realizaria isso “se possível fora” (TB). Graças a Deus, isso não é possível. Os verdadeiros santos vão saber que o verdadeiro Cristo não vai Se esconder em algum canto, de modo que os homens tenham que dizer: “Eis aqui o Cristo, ou, ei-Lo ali”. Ele brilhará em Sua glória na Sua vinda, e todo olho O verá.
A tribulação vai chegar a seu fim em convulsões finais que irão afetar até mesmo os céus, como os versículos 24 e 25 mostram. Sol, Lua e estrelas são às vezes usados ​​na Escritura como símbolos de poder supremo, poder derivado e poder subordinado, respectivamente; e “poderes que estão no céu” (AIBB) estão em vista, como mostra a última parte do versículo 25. Ainda este discurso do Senhor não é marcado por um grande uso de símbolos, como é o livro do Apocalipse. Então pensamos que as convulsões literais que afetam os corpos celestes não devem ser excluídas, especialmente porque sabemos que houve um blecaute literal do Sol quando Jesus morreu. O escurecimento daquele dia servirá para lançar maior destaque à liberação do brilho do Seu fulgor, quando Ele vem nas nuvens com grande poder e glória.
A Aparição gloriosa do Filho do Homem será seguida pela reunião dos “Seus eleitos” (TB). Estes foram mencionados no versículo 20, e eles são aqueles que perseveram “até ao fim” (v. 13), e eles serão salvos pela Aparição de Cristo. Esses eleitos são o remanescente de Israel fiel a Deus, nos últimos dias; pois o Senhor estava Se dirigindo aos Seus discípulos que naquele momento eram o remanescente temente a Deus no meio de Israel, e sem dúvida teriam entendido Suas palavras nesse sentido. Esses eleitos serão encontrados em todas as partes da Terra, e os instrumentos usados ​​em sua reunião serão anjos: reunidos, eles se tornarão o Israel redimido que vai entrar no reino milenar. Tudo isso deve ser diferenciado da vinda do Senhor para Seus santos como previsto em 1 Tessalonicenses 4, quando o próprio Senhor descerá do céu e nossa reunião será para Ele.
A alusão à figueira no versículo 28 é uma parábola e, portanto, devemos esperar encontrar nela um significado mais profundo do que aquele que é conectado com uma figura ou uma ilustração. A figueira sem dúvida representa Israel, como vimos na leitura de Marcos 11, e, portanto, o surgimento de seus ramos estabelece o início do reavivamento nacional com esse povo. O “verão” representa a era da bem-aventurança milenar para a Terra. Quando o real reavivamento nacional se instala para Israel, então a aparição de Cristo e a era milenar estão muito próximas.
A palavra “geração” no versículo 30 é evidentemente usada em um sentido moral e não em um sentido literal, pessoas de certo tipo e caráter, assim como o Senhor usou a palavra em Marcos 9:19 e em Lucas 11:29. A geração incrédula não passará até o segundo advento, nem mesmo irá passar a geração daqueles que buscam ao Senhor. A vinda do Senhor vai significar o desaparecimento da geração má, e ao mesmo tempo o pleno estabelecimento de todas as Suas palavras, que são mais firmes e mais duráveis do que todas as coisas criadas.
O versículo 32 tem apresentado muita dificuldade a muitas mentes por causa das palavras “nem o Filho”. Podemos não ser capazes de explicá-las completamente, mas podemos pelo menos dizer duas coisas. Primeiro, que neste evangelho o Senhor é apresentado como o grande Profeta de Deus, e que este era um assunto reservado pelo Pai e não dado a Ele, como um Profeta, revelar. Segundo, se Mateus 20:23 e João 5:30 fossem lidos e comparados com nosso versículo, veríamos que as três passagens correm em linhas paralelas, quanto a conceder, conhecer e fazer, respectivamente. Em Mateus, temos as exatas palavras: “Não Me compete concedê-lo. Poderíamos resumir Marcos como “não Me compete sabê-lo” e João como “não Me compete fazê-lo”. A incredulidade fez grande uso da palavra usada em Filipenses 2:7, “aniquilou-Se a Si mesmo”, ou mais literalmente, “esvaziou-Se” (TB), construindo sobre isso a teoria de que Ele Se despojou do conhecimento para Se tornar um judeu com as noções de Seu tempo; e assim eles estão habilitados – assim eles pensam – para imputar erro a Ele em muitos pontos. Ele Se esvaziou, pois as Escrituras dizem que Ele fez isso. As três passagens que mencionamos nos dão uma ideia apropriada do que estava envolvido nisso, e nos levam a bendizer Seu Nome por Seu gracioso abaixamento. A teoria da incredulidade O roubaria de Sua glória, e a nós de qualquer consideração por Suas palavras – palavras as quais, como Ele acabou de nos dizer, nunca passarão.
Os cinco versículos que encerram este capítulo contêm um apelo muito solene, que deve ser aprofundado em todos nós. No versículo 33, recebemos pela quarta vez as palavras: “Estais de sobreaviso ... vigiai” (ARA). O Senhor abriu Seu discurso com estas palavras, e o fechou com elas, e as pronunciou duas vezes entre elas (vs. 9 e 23). As revelações proféticas que Ele deu são todas feitas para ter um peso sobre nossas consciências e vidas: Ele nos previne para que estejamos preparados. Conhecendo a infalibilidade de Suas palavras, mas não sabendo quando é a hora, devemos “vigiar”, isto é, estar ardentemente despertados e observando, e também orar, pois não somos páreo para os poderes das trevas, e assim devemos manter a dependência de Deus. Somos deixados aqui para fazer nosso trabalho designado em um espírito de expectativa, antecipando a vinda do Filho do Homem.
A tríplice repetição da palavra “vigiar” nesses cinco versículos é muito impressionante. Devemos colocar grande ênfase nisso em nossas mentes, e mais ainda porque nossa porção caiu nesses últimos dias desta dispensação, quando Sua vinda não pode estar muito distante. É muito fácil sucumbir à atração do mundo, quando nossas mentes se tornam sonolentas e desatentas. Uma ótima e importante palavra é esta – VIGIAI. E o último versículo do nosso capítulo mostra que certamente se destina a aplicar-se a nós.



[1]  N. do T.: O Senhor Se referiu a dois “séculos”: “o presente século” (o período mosaico, desde o Sinai, com a entrega da Lei,  até a Sua Aparição, no final da tribulação. Após Sua rejeição, o “presente século” tornou-se “o presente século mau– Gl 1:4), e o “século futuro” (Mt 12:32) – o Milênio. Também houve “outros séculos” (Ef 3:5) – os períodos antediluviano, Patriarcal etc., e haverá também os “séculos dos séculos” – a eternidade (Gl 1:5 – ARA).

MARCOS 12

MARCOS 12

No final de Marcos 11, ouvimos os líderes dos judeus alegando ignorância. Eles não puderam dizer se o batismo de João era do céu ou dos homens, e muito menos poderiam entender a obra e o serviço do Senhor. Neste capítulo percebemos claramente demonstrado que Ele os conhecia e os entendia perfeitamente. Ele conhecia seus motivos, seus pensamentos e o objetivo para o qual eles estavam se dirigindo. Ele revelou Seu conhecimento deles em uma parábola impressionante.
O primeiro versículo fala de “parábolas”, e o evangelho de Mateus nos mostra que neste momento Ele pronunciou três. Marcos registra apenas a segunda das três – aquela que predisse o que esses líderes judeus iriam fazer e quais seriam os resultados para eles. Nesta parábola, os “lavradores” representavam os líderes responsáveis ​​de Israel, e um resumo é fornecido da maneira pela qual, através dos séculos, eles rejeitaram todas as exigências de Deus.
Ao falar de uma vinha, o Senhor Jesus dando continuidade a uma figura que havia sido usada no Velho Testamento – Salmo 80; Isaías 5 e em outros lugares. No Salmo, a videira é claramente identificada com Israel, e dela virá um “Ramo” que é, “o Filho do Homem que fortificaste para Ti” (v. 17). Em Isaías é muito claro que Deus não estava recebendo nada de Sua vinha, aquilo que Ele tinha o direito de esperar. Agora achamos a história bem adiantada. O proprietário da vinha tinha feito a sua parte providenciando tudo o que era necessário e a responsabilidade quanto ao fruto estava com os lavradores a quem a vinha foi confiada. Eles falharam em sua responsabilidade e, em seguida, passaram a negar os direitos do proprietário e a maltratar seus representantes. Por último, foram provados pelo advento do filho do dono. Então os líderes de Israel haviam maltratado os profetas e matado alguns deles. E agora o Filho apareceu, que é o Ramo de Quem o salmo fala. Esta foi a prova suprema.
A posição do judeu, como estando sob a lei, é retratada nesta parábola. Consequentemente, a questão era se eles poderiam produzir aquilo que Deus exigia. Eles não o fizeram. Não só houve ausência de frutos, mas também houve a presença de ódio positivo contra Deus e contra aqueles que O representavam; e esse ódio atingiu seu clímax quando o Filho apareceu. Os líderes responsáveis ​​foram movidos por inveja, e desejavam monopolizar a herança para si mesmos, e assim estavam preparados para matá-Lo. Um ou dois dias antes tinham determinado a Sua morte, como nos disse o versículo 18 do último capítulo. Agora o Senhor descobre para eles que Ele conhecia seus maus pensamentos.
E Ele também mostrou a eles quais seriam as terríveis consequências para eles mesmos. Eles seriam destituídos e destruídos. Isso foi historicamente cumprido na destruição de Jerusalém e, sem dúvida, terá um cumprimento mais além e final nos últimos dias. Aqu’Ele que eles rejeitaram Se tornará a Cabeça dominante de tudo o que Deus está construindo para a eternidade. Quando essa previsão for cumprida, será de fato uma maravilha aos olhos de Israel.
A afirmação de que o senhor da vinha “dará a vinha a outros” é uma declaração do que vem mais plenamente à luz em João 15. Outros vão se tornar ramos na Videira verdadeira, e produzirão frutos: somente que eles não mais estarão sob a lei ao fazê-lo, nem serão selecionados dentre os judeus apenas. As palavras do Senhor eram um aviso de que Sua rejeição significaria que Deus os abandonaria, e que ajuntaria outras pessoas, até que finalmente aqu’Ele que eles rejeitaram dominaria tudo. Eles perceberam que a parábola pronunciava julgamento contra eles.
Não ousando, no momento, impor as mãos sobre Ele, iniciaram uma ofensiva verbal contra Ele, esforçando-se por pegá-Lo em Suas palavras. Primeiro vieram os fariseus em conjunto com os herodianos. Sua pergunta quanto ao dinheiro do tributo foi habilmente projetada para torná-Lo um transgressor de uma forma ou de outra – seja contra os sentimentos nacionais do judeu ou do romano. Sua resposta, no entanto, os reduziu a impotência. Ele os fez admitir sua servidão a César por um apelo à cunhagem da moeda. Seus lábios, não os d’Ele, pronunciaram que era a imagem de César. Então Ele não apenas deu a resposta à sua pergunta que era perfeitamente óbvia à luz do que haviam acabado de reconhecer, mas também a usou como uma introdução à questão muito mais importante quanto às reivindicações de Deus sobre eles. Não é de admirar eles se maravilharam com Ele.
Podemos notar como, no versículo 14, esses oponentes prestaram homenagem à Sua perfeita verdade. De um modo muito além de qualquer coisa que eles percebessem – no sentido mais absoluto – Ele era a verdade e ensinava a verdade, totalmente impossível de ser desviado pelo homem e por seu pequeno mundo. De nenhum outro servo de Deus isso poderia ser dito. Até mesmo Paulo foi influenciado por considerações humanas, como mostra Atos 21:20-26. Somente Jesus é o perfeito Servo de Deus, e Ele era tão pobre que teve que pedir que uma “moeda” fosse trazida a Ele.
Em seguida vieram os saduceus, pedindo-Lhe para resolver o emaranhado matrimonial que Lhe propuseram. Ele fez isso e os convenceu de sua loucura; mas antes de fazer isso, Ele revelou a razão da sua loucura. Eles não conheciam as Escrituras – isso era ignorância. Eles não conheciam o poder de Deus – isso era incredulidade. Seu erro incrédulo se firmava nesses pilares gêmeos. A incredulidade moderna do tipo saduceu se baseia exatamente nesses mesmos dois pilares. Eles continuamente citam erroneamente, interpretam erroneamente, ou, de outra forma, mutilam as Escrituras, e concebem a Deus como se Ele fosse qualquer coisa, exceto o Todo-Poderoso – como apenas um homem, apesar de possuir poderes maiores que nós mesmos.
O Senhor provou a ressurreição dos mortos citando o Velho Testamento. O fato disso está implícito em Êxodo 3:6. Deus ainda era o Deus de Abraão, Isaque e Jacó centenas de anos após a morte deles. Embora mortos para os homens, eles viviam para Ele, e isso significava que eles deveriam ressuscitar novamente. Esse fato estava na Escritura e, ao negá-lo, os saduceus só se declararam ignorantes.
Como o fato estava presente nas Escrituras, o Senhor, fiel ao Seu caráter de Servo, apelou para a Escritura e não afirmou o fato por Sua própria autoridade. O que Ele afirmou autoritariamente está no versículo 25, onde Ele torna claro o estado ou condição ao qual a ressurreição nos introduzirá, indo além do que o Velho Testamento ensinou. O mundo da ressurreição difere deste mundo. Relacionamentos terrestres cessam nessas condições celestes. Não seremos anjos, mas devemos ser “como os anjos que estão no céu”. Imortalidade e incorruptibilidade serão nossas.
O fato claro era, portanto, que os saduceus tinham invocado uma dificuldade em sua ignorância que não existia de fato. A derrota deles foi completa.
Um dos escribas que estava ouvindo percebeu isso, e ele se aventurou a propor uma questão que eles muitas vezes debatiam entre si, sobre a importância relativa dos vários mandamentos. A resposta do Senhor afastou todos os seus elaborados argumentos e minúcias quanto a um ou outro dos dez mandamentos, indo diretamente à palavra contida em Deuteronômio 6:4-5. Aqui havia um mandamento que trazia sob seu alcance todos os outros mandamentos. Deus exigiu que Ele fosse absolutamente supremo nas afeições de Suas criaturas; se fosse exatamente assim, todas as outras coisas se encaixariam no lugar certo. Aqui está o grande mandamento-mestre que governa tudo.
Neste mandamento havia um elemento de grande encorajamento. Por que Deus deveria Se importar em possuir o amor indiviso de Sua criatura? A fé responderia a essa pergunta dizendo – porque Ele mesmo é amor. Sendo amor e amando a Sua criatura, embora perdida em seus pecados, Ele não pode ficar satisfeito sem o amor de Sua criatura. Israel não poderia olhar “firmemente para o fim” da lei. Se eles tivessem sido capazes de fazê-lo, é isso que eles teriam visto.
Quanto ao segundo mandamento, o Senhor dirigiu o homem para Levítico 19:18 – outra passagem inesperada. Mas este mandamento evidentemente decorre do primeiro. Ninguém pode ter habilidade e desejo para tratar seu próximo corretamente, a menos que primeiro seja correto em suas relações com seu Deus. Mas o amor é a essência deste segundo mandamento, não menos do que o primeiro. Amar o próximo como a si mesmo é o limite sob a lei. Somente sob a graça é possível dar um passo além desse, como, por exemplo, fizeram Áquila e Priscila, como registrado em Romanos 16:4. No entanto, “o amor é o cumprimento da lei” (Rm 13:10 – AIBB), e isso é dito em conexão com este segundo mandamento.
O escriba sentiu a força dessa resposta, como mostram os versículos 32 e 33. A série de perguntas começou com a confissão: “Mestre, sabemos que ... com verdade ensinas o caminho de Deus” (v. 14). Isso foi dito pelos fariseus e herodianos no espírito de hipocrisia. Terminou com o escriba dizendo com toda a sinceridade, “Correto, Mestre, Tu falaste de acordo com a verdade” (v. 32 – JND). O homem viu que o amor que levaria ao cumprimento destes dois grandes mandamentos é de muito mais importância do que oferecer todos os sacrifícios que a lei impunha. Os sacrifícios tiveram seu lugar, mas eles eram apenas um meio para um fim. O amor é “o fim do mandamento”, como 1 Timóteo 1:5 nos diz. O fim é maior do que os meios. Assim, o escriba aprovou a resposta que tinha sido dado a ele.
A resposta do Senhor no versículo 34 é muito impressionante. Ele declarou àquele homem: “não estás longe do reino de Deus”. Isso mostrou duas coisas. Primeiro, que qualquer um que se afaste do que é exterior e cerimonial, para perceber a importância do que é interior e vital diante de Deus, não está longe da bênção. Em segundo lugar, por mais importante que seja tal percepção, ela não é, em si mesma, suficiente para entrar no reino. Alguma coisa, além disso, é necessária, e é o próprio espírito de uma criança, como vimos ao considerar Marcos 10. O escriba estava próximo do reino, mas ainda não estava nele. Esta resposta, pensamos, desconcertou o homem, assim como os outros ouvintes, e por causa disso ninguém ousava fazer mais perguntas. Tal homem como este, bem versado na lei de Deus, eles achavam que estivesse no reino como uma coisa natural. As palavras do Senhor desafiaram seus pensamentos. No entanto, ao perceber que Deus visa e valoriza aquilo que é moral e espiritual mais do que é cerimonial e carnal, ele percorreu um longo caminho rumo ao reino. Romanos 14:17 reforça a mesma coisa em relação a nós mesmos, pelo menos em princípio. Reconhecemos isso totalmente?
Tendo Seus oponentes terminado com suas perguntas, o Senhor propôs a eles Sua grande questão, surgida do Salmo 110. Os escribas estavam bem claros de que o Messias seria o Filho de Davi; todavia aqui está Davi falando d’Ele como seu Senhor. Entre os homens naqueles dias, um pai nunca se dirigiu a seu filho em tais termos, mas o contrário: o filho chamava seu pai, senhor. Como poderia o Cristo ser então filho de Davi? Os escribas estavam errados no que afirmavam? Ou eles poderiam explicar isso?
Eles não conseguiam explicar. Eles ficaram em silêncio. A explicação foi extremamente simples. Mas face a face com o Cristo, e não querendo admitir Suas afirmações, eles fecharam os olhos intencionalmente a ela. Ele era o Filho de Davi, e Davi O chamou de Senhor pelo Espírito Santo, de modo que não houve erro algum. A explicação é que era o Filho de Deus que Se tornou o Filho de Davi segundo a carne, como é claramente afirmado em Romanos 1:3. Quando a Deidade do Cristo é plenamente reconhecida, tudo é claro. Esses versículos lançam uma boa dose de luz sobre a declaração em 1 Coríntios 12:3: “Ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo”.
O Senhor tinha agora respondido a todas as perguntas de seus adversários, e fez uma pergunta que eles não puderam responder. Se eles tivessem sido capazes de responder, eles teriam sido colocados na posse da chave para toda a situação. A multidão do povo ainda estava feliz em ouvi-Lo, mas os escribas eram cegos, e nos versículos 38-40 o Senhor adverte o povo contra eles. Aqueles que estavam sendo cegamente levados são advertidos contra seus líderes cegos. Os verdadeiros motivos e objetivos dos escribas são desmascarados. A Palavra de Deus dos Seus lábios penetra entre a alma e o espírito de um modo infalível.
Seu pecado característico era o egoísmo nas coisas de Deus. Seja no mercado – o centro de negócios, na sinagoga – o centro religioso, ou nas festas – o círculo social, eles devem ter o lugar de comando, e para esse fim eles usavam suas roupas de distinção. Tendo ganhado a posição de liderança, usavam-na para emplumar seus próprios ninhos financeiramente às custas das viúvas, a classe mais indefesa da comunidade. A conquista de poder e dinheiro foi o fim e objetivo de sua religião. Eles seguiram “o caminho de Balaão, filho de Bosor, que amou o prêmio da injustiça” (2 Pe 2:15), e há muitos em nossos dias que ainda trilham o caminho do mal, cujo fim é “mais grave condenação”, ou “juízo muito mais severo” (ARA). O advérbio “mais”, observe, não é  quanto à diferença na duração da punição, embora haja diferença quanto à sua severidade.
Os adversários provocaram essa discussão com suas perguntas, mas a última palavra foi a do Senhor. As palavras finais de Seus lábios devem ter caído com a força de uma marreta. Ele serenamente tomou para Si o ofício de Juiz de toda a Terra e pronunciou a condenação deles. Se Ele não fosse o Filho de Deus, isso haveria sido a pior loucura.
Mas o mesmo Filho de Deus assentou-Se defronte da arca do tesouro e viu as ofertas da multidão, e eis! Ele pode com igual exatidão estimar o valor de suas ofertas. Uma pobre viúva se aproxima – possivelmente alguém que sofreu com a fraude de vorazes escribas – e lança todo o seu pouco. Duas das menores moedas foram deixadas para ela, e ela depositou as duas adentro. De acordo com os pensamentos humanos, sua oferta era absurdo e desprezível pela sua pequenez, sua presença não seria notada, e sua ausência não seria sentida. Na avaliação divina, era mais valiosa do que todas as outras ofertas juntas. A contabilidade de Deus nessa questão não é como a nossa.
Para Deus, o motivo é tudo. Ali estava uma mulher que, em vez de culpar a Deus por causa das transgressões dos escribas, que afirmavam representá-Lo, devotava tudo o que tinha a serviço de Deus. Isso deleitou o coração de nosso Senhor.
Ele chamou Seus discípulos para Si, como o versículo 43 nos diz, e chamou a atenção para a mulher, proclamando a virtude de seu ato. Isso é particularmente impressionante se notarmos como Marcos 13 se inicia, pois Seus discípulos estavam ansiosos para mostrar a Ele a grandeza e a beleza dos edifícios do templo. Eles chamaram a atenção para pedras de grande valor feitas pelas atarefadas mãos dos homens. Ele chamou a atenção para a beleza moral do ato de uma pobre viúva. Ele disse a eles que seus grandes edifícios seriam destruídos. É o ato da viúva que será lembrado na eternidade.
E, no entanto, a viúva deu suas duas moedas para a arca do templo, que recebia contribuições para a manutenção da estrutura do templo! O Senhor já havia voltado Suas costas para o templo e agora estava pronunciando sua condenação. Ela não sabia disso; mas apesar de estar um pouco atrasada no tempo em sua inteligência, sua oferta foi aceita e valorizada de acordo com o coração devotado que a estimulou. Que conforto é esse fato!

Deus estava diante dela quando da sua oferta e Deus permanece mesmo quando os templos são destruídos. As coisas materiais – sobre as quais podemos colocar nossos corações – desaparecem, mas Deus permanece.