O amor e a fé estavam claramente ali, mas
até agora a fé deles era vagarosa e pouco inteligente quanto à Sua ressurreição.
Até mesmo as mulheres devotadas estavam cheias de pensamentos quanto ao embalsamamento
de Seu corpo, como mostram os versículos iniciais deste capítulo. Mas essa vagarosidade
deles apenas aumenta a clareza das provas que, por fim, os sobrepujaram com a convicção
de Sua ressurreição. Ao nascer do Sol, no primeiro dia da semana, estavam no sepulcro,
apenas para descobrir que a grande pedra, que bloqueava a entrada, havia sido rolada
dali. Eles entraram para encontrar não um corpo sagrado, mas um anjo, da aparência
de um jovem.
Mateus e Marcos falam de um anjo: Lucas
e João falam de dois. Isso não apresenta nenhuma dificuldade, pois os anjos aparecem
e desaparecem à vontade. O anjo, que apareceu como “um jovem ... vestido de uma
roupa comprida, branca” para as mulheres temerosas, havia aparecido um pouco
antes para os guardas como alguém com um aspecto de “um relâmpago, e o seu vestido branco como neve”, de modo que uma espécie
de paralisia caiu sobre eles. Ele foi uma coisa para o mundo e outra bem diferente
para os discípulos. Ele sabia como discriminar, e que essas mulheres estavam procurando
por Jesus, embora pensassem que Ele ainda estivesse na morte. Eram ignorantes, contudo
elas O amavam; e isso fez toda a diferença.
O testemunho angélico, porém, não operou
muito no momento. Isso impressionou as mulheres, mas principalmente na forma de
medo, tremor e assombro. Não produziu aquela calma certeza de fé que abre a boca
em testemunho aos outros. Elas ainda não podiam entender as palavras: “Cri, por isso falei” (Sl 116:10; 2 Co 4:13).
Em breve eles compartilhariam esse “espírito
de fé”, que era possuído tanto por Paulo como pelo salmista, mas isso seria
quando eles entrassem em contato, por si mesmos, com o Cristo ressuscitado.
As escrituras indicam claramente que os
anjos têm um ministério para realizar a favor dos santos – como testemunho (Hb 1:14). Seu ministério aos santos
é pouco frequente e, geralmente, alarmante para aqueles que o recebe, como foi o
caso aqui. No entanto, a mensagem deles era bem definida. “(Ele) não está aqui”, foi a parte negativa, e que as mulheres puderam
verificar por si mesmas. A palavra positiva foi: “Ele ressuscitou” (ARA). Isso elas não puderam verificar, por enquanto,
e, portanto, não parecem tê-las impressionado profundamente.
Segue-se, nos versículos 9-14, um breve
resumo das três impressionantes aparições do Senhor ressuscitado; relatos que nos
são mais detalhados nos outros evangelhos.
Primeiro vem o de Maria Madalena, que nos
é dado tão plenamente no evangelho de João. Ela foi a primeira a realmente ver o
Senhor em ressurreição: Marcos coloca esse fato além de qualquer dúvida. Isso é
significativo, pois mostra que o Senhor pensava em primeiro lugar naquele cujo coração
fosse talvez mais devastado pela Sua perda do que por qualquer outro. Em outras
palavras, o amor teve a primeira reivindicação em Sua atenção. Como resultado, ela
realmente acreditava e, portanto, era capaz de falar na forma de testemunho aos
outros. Mas, mesmo assim, suas palavras não tiveram efeito apreciável. Os outros
realmente amavam o Senhor, pois lamentaram e choraram, e a própria profundidade
de sua dor mostrou evidência de seu amor pelo Senhor embora ainda não O tivessem
visto.
Em segundo lugar, vem a Sua Aparição para
os dois que iam de caminho para o campo, que nos é dado em Lucas com tantos detalhes.
Estes não haviam negado a Ele como Pedro fez, mas tinham perdido tanta afeição que
se afastavam de Jerusalém sem rumo certo, como se agora desejassem dar as costas
a um lugar para eles cheio de esperanças frustradas e a mais trágica perda e desapontamento.
Sua visão do Cristo ressuscitado reverteu seus passos e os trouxe de volta a seus
irmãos com as boas-novas. Mesmo isso, no entanto, não superou o seu desprezo incrédulo.
Aconteceu assim como
acontece conosco. Ressurreição nos leva para fora da atual ordem das coisas,
e Sua ressurreição é um fato de tão imensa importância que deve, de fato, ser estabelecido
por múltiplas evidências incontestáveis.
Terceiro, Sua aparição aos onze. Talvez
essa não seja uma das ocasiões que nos são apresentadas com mais detalhes
em Lucas e João, pois diz: “estando eles
reclinados à mesa” (AIBB). Tome o relato em Lucas, por exemplo – Ele dificilmente
teria perguntado: “Tendes aqui alguma
coisa que comer?” se eles estivessem se reclinando à refeição. A presença de
comida teria sido óbvia demais. Pode, portanto, esta ter sido uma ocasião não relatada
nos outros evangelhos. Nesta ocasião Ele manifestou a incredulidade deles como uma
questão de reprovação, e ainda assim, Ele lhes deu uma comissão.
É notável como as comissões registradas
nos quatro evangelhos diferem uma da outra. Aquilo que é afirmado em Atos 1:3, nos
prepararia para isso. Muitas vezes durante os quarenta dias Ele apareceu para eles,
falando de coisas relacionadas ao reino de Deus. Durante esse tempo, Ele evidentemente
apresentou a eles sua comissão sob diferentes pontos de vista, e Marcos nos dá um
deles. Podemos muito bem nos admirar que, tendo sido forçado a censurá-los por sua
incredulidade, Ele iria enviá-los para pregar o evangelho para que os outros creiam.
No entanto, aquele que pela dureza de coração tem sido teimoso na incredulidade
é, quando completamente conquistado, uma testemunha valiosa para os outros.
O escopo desta comissão do evangelho é o
maior possível. É “todo o mundo” e não
apenas a pequena terra de Israel. Além disso, deve ser pregado a “toda criatura”, e não apenas ao judeu.
É, em outras palavras, para todos em todos os lugares. A bênção que o evangelho
transmite é de natureza espiritual, pois traz salvação, quando a fé está presente
e o batismo é submetido. Não devemos transpor as palavras, batizado e salvo,
e escrever: “Quem crer e for salvo, será batizado”.
Em nenhuma escritura o batismo está ligado
à justificação ou à reconciliação, mas há outras escrituras que conectam o batismo
com a salvação. Isto é porque salvação é uma palavra de grande abrangência, e inclui
dentro de seu escopo a libertação prática do crente de todo o sistema mundial, seja
do caráter judaico ou gentio, em que uma vez ele estava conectado. Suas ligações
com esse sistema mundial devem ser cortadas, e o batismo estabelece o corte desses
elos – em uma palavra, a dissociação. Aquele que crê no evangelho e aceita
o corte de suas ligações com o mundo que o prendeu, é um homem salvo. Um homem pode
dizer que ele crê, e até mesmo o faz na realidade, mas se ele não se submeter ao
corte dos velhos elos, ele não pode ser considerado salvo. O Senhor conhece os que
são Seus, claro, mas isso é outro assunto.
Quando se trata de “condenação”, o batismo não é mencionado. Isso é muito significativo.
Mostra o terreno sobre o qual repousa a condenação. Mesmo que um homem seja batizado,
se ele não crer, será condenado. A ordenança externa é claramente prescrita
pelo Senhor, mas só pode ser administrada se fé é professada; e a profissão, como
sabemos muito bem, não é sinônimo de posse. A salvação não é eficaz à parte de fé.
Uma boa dose de controvérsia se espalhou
em torno dos versículos 17 e 18. As coisas milagrosas mencionadas estão relacionadas
por alguns com os pregadores do evangelho, e afirma-se que elas devem estar em plena
manifestação hoje. Duas ou três coisas podem ser úteis.
Em primeiro lugar, as coisas devem seguir
não os que pregam, mas os que creem.
Em segundo lugar, o Senhor afirma que esses
sinais se seguirão, independentemente de quaisquer condições anteriores por
parte do pregador. Não há estipulação de que ele deva experimentar um “batismo do
Espírito” especial, como é frequentemente instigado. Se os homens crerem, estes
sinais seguirão; assim diz o Senhor. Tudo o que poderia ser deduzido de sua ausência
seria que ninguém realmente creu.
Em terceiro lugar, certas palavras não aparecem
na declaração, e que alguns parecem ler mentalmente. Ela não diz que estes
sinais vão seguir todos que creem, em todos os lugares, e todo o tempo. Se dissessem assim, deveríamos chegar à conclusão de que
até hoje quase ninguém creu no evangelho; nem nós mesmos cremos nele!
Estas palavras do nosso Senhor, é claro,
foram cumpridas. Podemos apontar quatro coisas das cinco ocorrências, conforme registrado
no livro de Atos. A quinta coisa, beber sem dano de alguma coisa mortífera, não
temos registro disso, mas não temos sombra de dúvida de que isso aconteceu. Ele
disse que aconteceria e acreditamos n’Ele. Sua palavra é suficiente para nós. Ele
dá os sinais de acordo com o Seu próprio prazer e quando vê que sejam necessários.
Os dois versículos que encerram o nosso
evangelho são extremamente formosos. Lembramos que ele colocou diante de nós nosso
Senhor como o grande Profeta, que nos trouxe a completa Palavra de Deus, o Servo
perfeito, que realizou plenamente Sua vontade. Tudo foi relatado com notável brevidade,
como se torna tal apresentação de Si mesmo. E agora, no final, com a mesma brevidade,
o fim da maravilhosa história está diante de nós. Tendo o Senhor comunicado aos
Seus discípulos tudo o que desejava: “foi
recebido no céu e assentou-Se à direita de Deus”.
Da Terra Ele foi expulso, mas
é recebido no céu. Suas obras na Terra foram recusadas, mas
agora Ele toma Seu assento em uma posição que indica administração e poder de
um tipo irresistível. Mas é colocado que Ele foi “recebido”, e assim o que é enfatizado é que tanto a Sua recepção como
a Sua sessão de administração são devidas a um ato de Deus. O Servo perfeito
pode ter sido recusado aqui, mas pelo ato de Deus, Ele toma o lugar do poder, onde
nada impedirá Sua mão de realizar a vontade do Senhor.
O último versículo indica a direção em que
Sua mão está se movendo durante o tempo presente. Ele ainda não está tratando com
a Terra rebelde no governo justo: isso Ele fará quando a hora chegar, de acordo
com o propósito de Deus. Hoje, Seus interesses estão centrados na propagação do
evangelho, como Ele acabara de indicar. Seus discípulos saíram pregando sem fronteiras
ou limitações, mas o poder que deu eficácia às palavras e trabalhos deles era Seu,
e não deles. De Seu elevado assento no alto, Ele trabalhou com eles e deu os
sinais que Ele prometeu, conforme registrado nos versículos 17 e 18. Ele deu estes
sinais para confirmar a palavra, e essa confirmação foi especialmente necessária
no início de sua proclamação.
Embora os sinais dos versículos 17 e 18
sejam raramente vistos hoje, os sinais ainda seguem a pregação, sinais na
esfera moral e espiritual – personalidades e vidas são completamente transformadas.
O Servo perfeito, à destra de Deus, ainda está trabalhando.